1001 HISTÓRIAS SOBRE LIVROS PARA LER ANTES DE NASCER

1. Ansiedade Livresca

José Mindlin, o maior bibliófilo brasileiro, colecionador compulsivo de livros raros que organizou uma biblioteca particular com mais de 50 mil volumes, lia de sete a nove livros por mês, somando algo em torno de cem livros por ano, o que resultaria num montante de aproximadamente oito mil livros lidos ao longo de sua vida de leitor voraz.

Quem de nós, amantes de livros, não vive angustiado com a eterna falta de tempo para ler todos os livros que ficam clamando por nossa atenção nas estantes da casa, livrarias e sebos (físicos ou virtuais) e nas longas listas que compilamos de “livros para ler”, que vão sendo alongadas a cada curso ou palestra que assistimos ou a cada novo livro que lemos – não é raro que, ao lermos um dos livros constantes da nossa torturante lista fiquemos aliviados por termos reduzido uma unidade da mesma e, ao mesmo tempo, nos tornemos ainda mais ansiosos por termos adicionado diversos outros livros que foram referenciados nessa mesma leitura..

Excluindo-se figuras excepcionais como a do Mindlin, estima-se que em países desenvolvidos a maioria das pessoas letradas consumirá não mais do que mil obras de literatura no decorrer da vida adulta, sendo que em média esse número deve cair para seiscentos, sendo razoável esperar que pessoas com certo nível cultural possam incrementar esse escore despendendo sete horas por semana lendo (levando dez horas em média para ler um livro).

Visando aplacar nossa “ansiedade livresca”, Sutherland nos consola lembrando que até os mais lidos entre nós passarão pela vida sem ter lido todas as 39 peças de Shakespeare e nos alerta sobre a obviedade de que há mais “grande” literatura prontamente acessível a nós agora do que uma pessoa qualquer conseguirá absorver numa vida inteira. (1) Reforçando este último argumento, o autor cita como exemplo que – diferentemente do tempo de Shakespeare em que havia uns dois mil títulos disponíveis – só nas galerias da Biblioteca Britânica e da Biblioteca do Congresso Americano existem perto de dois milhões de volumes classificados como “literatura”, sem mencionar as bibliotecas digitais, como a do Projeto Gutenberg que proporciona uma acesso a 250 mil obras de literatura.

Nesse contexto, somos forçados a abandonar nossa ambição faustiana de apropriação ilimitada do conhecimento disponível em textos publicados, o que na verdade sinaliza uma inconsciente perspectiva iluminista ainda vigente no zeitgeist contemporâneo. Ao aceitarmos nossa condição humana que nos caracteriza como criaturas de racionalidade limitada que necessitam lutar pela sobrevivência, concluímos que nunca teremos tempo para ler tudo o que deveríamos. Mas aí surge de imediato uma pergunta que não quer calar: Será que estamos mesmo lendo o que deveríamos?

Aqui cabe a amplificação que Sutherland faz sobre o assunto, reproduzindo a provocação feita pelo americano Theodore Sturgeon ao afirmar que “Noventa por cento de tudo [que é publicado] é lixo”. Talvez se possa abrandar tal assertiva classificando como “popular” o que esse distinto escritor de ficção científica chama de “lixo”. O romance, por exemplo, seria o gênero popular por excelência, o qual ao cair no gosto indiscriminado, invariavelmente estimula o consumo “acrítico”. Assim, para o autor de “Uma breve história da literatura”, é grande a chance de ao visitarmos qualquer livraria de aeroporto encontrarmos mais Dan Brown do que Gustave Flaubert ou Virginia Woolf.

A vencedora de 2012 do prêmio de ficção Booker e Costa foi Hilary Mantel, por seu romance histórico “O livro de Henrique”, que vendeu, num espaço de seis meses, perto de um milhão de cópias. Nenhum vencedor anterior, em cinquenta anos, gozara de tamanho sucesso nas vendas. Mas façamos uma comparação com as dezenas de milhões de cópias que E. L. James vendeu no mesmo período de seu “bonkbuster” (“transar + arrasa-quarteirão”) “Cinquenta tons de cinza”. Nem é preciso dizer que este último não venceu qualquer prêmio literário importante e só ganhou a zombaria universal.

Constata-se que o termo “best-seller” teve o seu primeiro uso registrado em 1912, sendo também de elaboração relativamente recente a “lista de mais vendidos” (a primeira do tipo apareceu na América em 1895). Os britânicos resistiram bravamente à introdução de qualquer lista oficial de mais vendidos até 1975, desde que o “bestsellerismo” representava para eles uma “americanização” indesejada que prejudicava as “discriminações” necessárias que o leitor inteligente deveria fazer.

Na tentativa de respondermos à questão sobre se estamos lendo o que deveríamos ou o que os outros querem que leiamos, talvez cheguemos à conclusão que estamos sendo bastante influenciados pelo “bestsellerismo”. Assim, eventualmente constataremos que não estamos fazendo bom uso do nosso curtíssimo “tempo discricionário” (tempo que podemos usar livremente) em sua parcela dedicada à leitura durante nossa vida adulta.

Essa importante reflexão poderá nos levar à conscientização de que mais importante do que procurarmos ler “muitos livros”, devemos nos esforçar para ler os “livros mais significativos para nós”, isto é, aqueles que verdadeiramente agregam valor para nossas vidas pessoal e profissional. Dessa forma, estaremos sendo mais eficazes (fazendo a “coisa certa”) do que eficientes (fazendo “muita coisa”, qualquer que esta seja) em nosso processo de formação intelectual. Claro que o ideal é buscar a efetividade (fazer “muita coisa certa”). Mas sempre, em qualquer circunstância da vida, a eficácia deve vir em primeiro lugar.

Na busca por eficácia em nosso esforço para expansão da consciência através da leitura visando a aquisição contínua de conhecimento (e sabedoria), existem duas palavras mágicas que deveremos usar como um “mantra” nos nossos momentos de escolha de livros para ler: RELEVÂNCIA e PRIORIDADE. Na definição dos livros mais significativos para nós, inevitavelmente chegaremos à conclusão que não teremos tempo de vida útil para lermos nem mesmo esses livros considerados por nós (autonomamente) como importantes para agregação de valor intelectual. Através da seletividade, devemos agora ser ainda mais discriminatórios e perguntar: “Dentre os livros mais importantes para minha vida pessoal e profissional quais são os mais RELEVANTES”? E a partir deste escrutínio seletivo, devemos PRIORIZAR nossa lista de leitura numa sequência do mais para o menos relevante de acordo com os nossos valores e preferências. Devemos ainda ter em mente que cada vez que excluirmos ou incluirmos livros na lista de leitura, devemos questionar a ordem de prioridade estabelecida desde que os critérios de relevância tendem a se alterar de acordo com as contingências da vida.

Um bom método a ser aplicado como ajuda nesse processo de construção de nossa lista de leitura é a análise prévia de livros relacionados com crítica literária e história do pensamento humano escritos por autores com credibilidade no mercado editorial. De forma coerente com esse princípio, utilizaremos neste texto algumas importantes referências extraídas de “livros sobre livros” e de livros sobre a história do conhecimento como uma primeira aproximação de uma relação geral de leitura considerada como fundamental para a nossa formação intelectual, a qual deverá ser individualmente customizada a partir de critérios de valor pessoal e preferências particulares como acima explanado.

2. Nos Primórdios do Livro

Na Antiguidade, escrevia-se em pergaminhos, papiro e papel utilizando penas de aves ou caniço com tinta preta ou colorida, como nos conta Will Durant (“A história da civilização – IV”). O papiro foi usado na Europa até a conquista do Egito pelos Maometanos (séc. VII). Os pergaminhos eram geralmente feitos de pele grossa de carneiro, sendo que o papel constituía até o século XII um artigo caríssimo que se importava do Islã quando então começou a ser fabricado na Europa.

Em sua obra biográfica, “Leonardo da Vinci”, Walter Isaacson registra que a mente desse gênio renascentista está revelada de forma mais clara em seus cadernos com mais de 7200 páginas (provavelmente apenas um quarto do que Leonardo verdadeiramente produziu), contendo anotações e rascunho de informações que milagrosamente ainda se encontram acessíveis após quinhentos anos, o que comprovaria que o papel acabou se mostrando uma fantástica tecnologia de armazenamento de dados.

Conserva-se grande número de trabalhos de literatura clássica graças aos copistas monásticos. Os livros manuscritos demandavam um árduo trabalho o que os tornava um objeto de luxo. O custo dos livros e a escassez de verbas para as escolas contribuíam diretamente para uma elevada taxa de analfabetismo. Ainda no início do século XII em boa parte da Europa a cultura ficava confinada aos sacerdotes, contadores, escribas, funcionários do governo e técnicos.

Dizia-se aos monges fatigados que Deus perdoaria um de seus pecados por linha que copiassem. Conta-se que um monge escapou de ir para o inferno pela vantagem de uma única carta. Logo em seguida ao término do exaustivo trabalho, muitas vezes chegavam a escrever na página final: “Explicit hoc totum”; Pro Christo da mihi potum” (Está tudo terminado. Por amor de Cristo, dai-me algo para beber).

No lar, o livro constituía objeto precioso de uma família, o qual era lido em voz alta para entretenimento dos convidados (as regras de pontuação e estilo foram adotadas posteriormente para conveniência da leitura oral). Mesmo a Bíblia era muito rara fora dos mosteiros, sendo que poucos clérigos possuíam uma cópia completa da mesma desde que era necessário um ano inteiro para copiá-la e a renda anual de um sacerdote de paróquia para se poder comprá-la.

Para ilustrar o valor desses manuscritos em geral naquela época, registra-se a venda de uma Bíblia por U$ 10.000,00 (um livro comum custava entre U$160,00 e U$200,00 na cotação do dólar de 1949) e a troca de um missal por um terreno e de uma gramática do século V por uma casa e um terreno.

O tamanho de um livro era determinado pelo tamanho das peles existentes, cada uma das quais era dobrada para se fazer um “fólio” (folha de papiro, pergaminho ou papel resultante da dobragem ao meio de uma folha maior). Após o século V não mais se produziram livros em rolos como nos tempos antigos. As encadernações medievais tanto podiam ser de pergaminho pesado como de linho, couro ou madeira, superando em suntuosidade a maioria dos livros modernos.

Na Inglaterra, de 1131 a 1833, muitos registros governamentais ainda eram escritos em rolos – o encarregado do arquivamento dos mesmos era denominado de “Mestre dos Rolos”.

As bibliotecas começaram a ser estruturadas por iniciativas esporádicas (como a de São Bento ao determinar que cada mosteiro Beneditino deveria ter uma), sendo bastante limitadas em seu volume como as de Bernardo de Chartres, filósofo platônico do século XII, que deixou uma coleção de apenas 24 volumes e a de Irmão Acúrsio, famoso jurista italiano, que tinha uma biblioteca de 63 livros. Excepcionalmente algumas catedrais – como as de Toledo, Barcelona, Bambergue, Hildesheim e Cantuária – tinham grandes bibliotecas (de uma forma geral, a maior das bibliotecas não tinha mais que 100 livros).

Em meados do século XIX na Inglaterra, W. H. Smith inventou uma biblioteca de circulação através da qual a pessoa podia alugar um livro no estande da Smith na Euston Station, lê-lo na viagem de dez horas até Edimburgo e, na chegada, devolvê-lo no estande da Smith na Waverley Station. (1)

Conta-se que um grão-vizir da Pérsia gostava tanto de livros que carregava sua biblioteca quando viajava, acomodando-a em quatrocentos camelos treinados para andar em ordem alfabética. (Alberto Manguel, “Uma breve história da leitura”)

Em seu livro “Alexandria”, Theodore Vrettos relata que entre os poucos que eram conhecidos na Antiguidade por terem coleções de livros encontram-se Pisístrato (respeitado e temido tirano que estabeleceu a primeira biblioteca pública em Atenas), Polícrates (rei tirano de Samos), Nicócrates (Rei de Pérgamo), Eurípides (poeta trágico), Demóstenes (afamado orador e político de Atenas), Platão e Aristóteles.

Platão, como um bom colecionador de livros, depois da morte de Sócrates viajou por várias regiões culturalmente mais desenvolvidas da Grécia e da Sicília onde coletou diversos manuscritos e documentos do século V a.C., tendo desembolsado a alta soma de 100 minas (1 mina = 100 dracmas) para comprar três livros de Filololau de Crotona sobre a doutrina pitagórica.

Aristóteles foi um dos pioneiros na preservação e aplicação da cultura na Antiguidade. Alexandre, o Grande, respeitava tão profundamente Aristóteles por este ter sido seu preceptor ao longo de três anos, que em suas conquistas no Egito e nos reinos da Ásia e do Oriente obtinha diversas obras raras (preciosos manuscritos gregos da Ásia menor, rolos de papiro egípcios e muitos manuscritos orientais) e as enviava para o filósofo em Atenas que as compilava e classificava em sua vasta biblioteca particular constituída por cerca de quatrocentos livros.

No Brasil, aponta Cristina Antunes (“Memórias de uma guardadora de livros”), a prática de colecionar livros ter-se-ia iniciado a partir de meados do período colonial, havendo informações sobre a existência de modestas bibliotecas particulares, sendo que as maiores concentrações de livros estavam mesmo sob posse dos jesuítas, detentores do monopólio do ensino no país. Posteriormente à expulsão dos jesuítas, outras ordens religiosas (franciscanos, beneditinos e carmelitas) assumem um papel mais proeminente no ensino e estruturam escolas com bibliotecas anexas aos seus conventos.

Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil em 1808, a Livraria Real foi trazida de Portugal por D. João VI, dando surgimento à criação da Biblioteca Real em 1811 (tornada pública em 1814). Esta, por sua vez, constituiu o núcleo do que é hoje a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

A fim de serem reutilizados, muitos pergaminhos tiveram raspados os manuscritos neles originalmente registrados, perdendo-se para sempre muitas obras importantes da nossa história, de acordo com apuração de Durant, em obra acima citada. Outras causas de destruição de registros antigos incluem guerras, incêndios e fundamentalismo político e religioso. Por exemplo, os hunos saquearam bibliotecas monásticas na Baviera, os nórdicos na França e os sarracenos na Itália, sacerdotes gregos persuadiram os imperadores gregos a queimar os trabalhos dos poetas eróticos (incluindo Safo e Anacreonte), muitas obras clássicas gregas desapareceram no saque de Constantinopla em 1204 e quase todos os preciosos manuscritos e arquivos da biblioteca papal iniciada pelo Papa Dâmaso (séc. IV) foram destruídos no agitado século XII (a atual biblioteca do Vaticano data do século XV).

Desde que o livro tem um papel político além de didático, este passou a ser hostilizado por governos autoritários tais como aqueles das ditaduras nazista, fascista e comunista, conforme nos lembra José Mindlin, em seu “No mundo dos livros”. Na perspectiva religiosa, a própria Igreja Católica estabeleceu um Index Librorum Prohibitorum – Índice de Livros Proibidos -, vedando a leitura de textos que, de uma forma ou outra, contrariavam os ditames de sua pregação. Na catequese de índios no Brasil, os jesuítas lhes ensinavam artes manuais, pintura, música, fabricação de instrumentos musicais, mas não os ensinavam a ler e muito menos a escrever, porque tais habilidades poderiam incorrer em risco de subversão. A propósito e ainda nesse contexto, em “1984”, George Orwell nos fala sobre a redução gradativa do dicionário em Oceania e a manipulação da linguagem para manipular a realidade da sociedade.

Após termos apresentado uma breve perspectiva sobre os primórdios do livro, daremos agora um sobrevoo sobre alguns marcos da evolução do pensamento na história da humanidade (perspectiva ocidental) com seus personagens e obras fundamentais.

3. Os Pioneiros do Pensamento Escrito (3000 a.C. – 1300 d.C.)

Sobre Deuses e Heróis

As primeiras histórias escritas surgiram na forma de poemas, baseados em tradições orais que aplicavam mecanismos poéticos tais como rimas, ritmo e métrica como auxiliares essenciais para a memória em músicas e histórias orais. (2) “A epopeia de Gilgamesh” (uma das primeiras obras de literatura escrita, com origem na Mesopotâmia a partir de 2100 a.C.) e as epopeias sânscritas, “O Mahabharata e Ramayana” (compostos na antiga Índia entre os séculos IX e IV a.C.), fazem parte dos primórdios dos poemas épicos (epos: história e poema) conhecidos.

Os poemas de “Gilgamesh” têm destaque na literatura mundial não apenas por precederem aos clássicos de Homero em pelo menos mil e quinhentos anos, mas principalmente pela qualidade e originalidade do seu enredo. Nesta epopeia do primeiro herói trágico conhecido da história, retrata-se uma condição muito assemelhada às ansiedades humanas relacionadas com o destino do homem comum (a mortalidade, a sede por conhecimento e a busca da vida), numa combinação de aventura, moralidade e tragédia.Ao longo de sua vida, Alexandre Magno nutria uma grande admiração por poesia e sempre mantinha consigo, mesmo em períodos de batalhas, uma cópia da “Ilíada” que fora para ele preparada por Aristóteles. Seus heróis eram Aquiles e Hércules. (Theodore Vrettos, “Alexandria”)

Falando agora na perspectiva ocidental, constata-se que os poetas tinham imensa importância na educação e na formação espiritual do homem entre os gregos. (3a) O helenismo inicial buscou alimento espiritual predominantemente nos poemas de Homero (séc. VIII a.C.), “Ilíada” (Ilium: cidade na região de Tróia) e “Odisseia” (Odusseus: Ulisses em latim), que exerceram nos gregos uma influência análoga à da Bíblia sobre os hebreus. (3b) Embora ricos em imaginação, situações e acontecimentos fantásticos, os poemas homéricos só raramente caem na descrição do monstruoso e do disforme, diferentemente do que ocorre com frequência nas manifestações artísticas dos povos primitivos. Homero não se limita a narrar uma série de fatos, mas também pesquisa suas causas e suas razões, ainda que no nível mítico-fantástico. E esse modo poético de ver as razões das coisas é que prepara aquela mentalidade que, em filosofia, levará à busca da “causa” e do “princípio”, do “porquê” último das coisas. As obras “Ilíada” e “Odisseia” são consideradas como a base do pensamento ocidental.

Os registros históricos apontam que a edição mais antiga das obras de Homero resultou da iniciativa de Pisístrato, tirano de Atenas, no século VI a.C. Várias edições seguintes originam-se desta primeira contendo algumas alterações ou interpolações resultantes de tradução incorreta, má interpretação dos copistas ou participação de filólogos da época. No século II a.C. uma edição corrigida e mais aprimorada foi conduzida por Zenódoto de Éfeso, um dos primeiros diretores da Biblioteca de Alexandria e o mais notável crítico de Homero na Antiguidade. (3a)

Os gregos da Época Homérica foram também bastante influenciados por Hesíodo (séc. VIII a.C.) que, em sua “Teogonia”, narra o nascimento de todos os deuses bem como nos conta alguns mitos fundamentais, como o mito das raças, o de Prometeu (o titã que enfrenta Zeus para dar o fogo aos homens) ou ainda o mito de Pandora (o “belo mal” enviado por Zeus para punir os homens). (3c), (3d), (3e)

Em Busca da Razão das Coisas

Com o despontar do Período Arcaico (700 – 500 a.C.) em seguida ao fim da Época Homérica (1100 – 700 a.C.) da história da Grécia Antiga, ocorre uma transmutação fundamental da perspectiva mítico-religiosa para a perspectiva racional no modo de pensar a realidade do universo por parte daqueles que nutriam o “amor pelo conhecimento” (“filo-sofia”). (3a) Aqui ocorre a formação da pólis grega propriamente dita com suas características principais, o desenvolvimento da noção de cidadania e o estabelecimento dos fundamentos econômicos e sociais da civilização grega.

Inicialmente, a totalidade do real era vista como physis (natureza) e como cosmos. Assim, o problema filosófico por excelência era a questão cosmológica. Os primeiros filósofos, chamados precisamente de “físicos”, “naturalistas” ou “cosmólogos”. Com os sofistas, porém, o quadro mudou. A problemática do cosmos entrou em crise e a atenção passou a se concentrar no homem em suas virtudes específicas. Nascia assim a problemática moral.

Inicialmente, a totalidade do real era vista como physis (natureza) e como cosmos. Assim, o problema filosófico por excelência era a questão cosmológica. Os primeiros filósofos, chamados precisamente de “físicos”, “naturalistas” ou “cosmólogos”. Com os sofistas, porém, o quadro mudou. A problemática do cosmos entrou em crise e a atenção passou a se concentrar no homem em suas virtudes específicas. Nascia assim a problemática moral.

Tales (624-546 a.C.), considerado o primeiro filósofo da história, teve como proeminente discípulo Anaximandro (611-546 a.C.), o qual foi o primeiro a publicar escritos filosóficos. Este elaborou um tratado “Sobre a natureza” (do qual nos chegou um fragmento) tido como o primeiro tratado filosófico do Ocidente e o primeiro escrito grego em prosa. Por sua vez, Anaxímenes (586-525 a.C.), discípulo de Anaximandro, produziu um tratado com o mesmo título de seu mestre, “Sobre a natureza”, do qual nos chegaram três fragmentos. Ainda com esse mesmo título, Heráclito de Éfeso (535-470 a.C.) deixou registrado seu pensamento como um dos mais respeitados filósofos pré-socráticos no seu livro “Sobre a natureza”, do qual chegaram até a nós inúmeros fragmentos.

De Pitágoras (580-500 a.C.), filósofo venerado como uma divindade por seus seguidores, não se assegura a existência de fragmentos de seus escritos originais, sendo que muitos registros atribuídos a ele são falsificações de épocas posteriores ou são escritos da irmandade pitagórica.

Xenófanes (570-480 a.C.) viveu como andarilho até a idade de 92 anos, cantando como aedo as suas próprias composições poéticas, das quais se encontram preservados alguns fragmentos.

Parmênides (540-470 a.C.) foi o fundador da escola eleática, destinada a ter grande influência sobre o pensamento grego. De seu poema, “Sobre a Natureza”, sobreviveram o prólogo e alguns fragmentos, trechos que, ao lado dos fragmentos de Heráclito, representam para alguns especialistas, a doutrina mais profunda de todo o pensamento pré-socrático.

Zenão (510-461 a.C.) registrou sua filosofia que atesta o nascimento do método da dialética através da refutação da refutação em livro do qual só dispomos de alguns fragmentos. Melisso de Samos (490-441 a.C.) corrigiu e sistematizou a doutrina eleática em seu livro, “Sobre a natureza ou sobre o ser”, do qual chegaram até nós alguns fragmentos.

Empédocles (492-432 a.C.), filósofo, místico, taumaturgo e médico, compôs o poema “Sobre a natureza” e um “Carme lustral” (poema sobre a purificação), dos quais só foram preservados alguns fragmentos. As narrações sobre a sua morte pertencem à lenda: segundo alguns, teria desaparecido durante um sacrifício; segundo outros, ao contrário, ter-se-ia jogado no Etna.

Anaxágoras (499-428 a.C.), importante personagem responsável pela introdução da filosofia em Atenas, escreveu o tratado “Sobre a natureza”, do qual sobreviveram fragmentos significativos.

Demócrito (460-370 a.C.), considerado um dos mais cultos dos filósofos em sua época, descobriu o conceito de “átomo” e desenvolveu numerosos escritos cujos fragmentos hoje disponíveis versam sobre ética, política e educação.

Entre os principais sofistas, Protágoras (485-410 a.C.), o mais brilhante dessa escola de filósofos, escreveu como principal obra “As antilogias”, da qual nos chegaram apenas testemunhos. Górgias (485-375), mestre da retórica, teve como obra filosófica mais importante “Sobre a natureza ou sobre o não-ser”. Pródico (465 – 395 a.C.) lecionou com sucesso em Atenas, deixando como sua obra-prima o livro “Horai”.

As Tragédias Humanas no Palco

Com o estabelecimento de uma forma de democracia em torno de 510 a.C., Atenas inaugura a era da Grécia clássica. (2) Por meio de uma importante mudança de paradigma político-social, essa cidade-estado se torna o berço de um movimento cultural que fomentou o desenvolvimento da civilização ocidental. Atividades intelectuais diversas fizeram florescer a filosofia, a cultura literária, a arte, bem como uma forma de arte literária relativamente nova: o drama. O “Dionísia”, festival anual de Teatro, foi realizado durante muitos anos em Atenas e atraía um público superior a 15 mil pessoas para assistirem peças ao ar livre, cujos dramaturgos expoentes foram: Ésquilo, Sófocles e Eurípides. (4a), (4b), (4c)

Tido como o verdadeiro fundador da tragédia grega, Ésquilo (525-456 a.C.) teve sua primeira peça exibida em Atenas durante o festival anual de competição teatral (“Dionísia da Cidade”) do ano de 499 a.C. (4d) Após ter competido por quinze anos, ele obteve sua primeira vitória no festival de 484 a.C., sendo que, até sua última disputa, esse poeta trágico foi vencedor pelo menos mais onze vezes.

ÉSQUILO

Registra-se que Ésquilo, autor que participava como ator na encenação de suas próprias peças, escreveu mais de noventa tragédias, das quais apenas sete sobreviveram: “As suplicantes”, “Os persas”, “Sete contra Tebas”, “Prometeu acorrentado”, e a trilogia “Oresteia” (“Agamêmnon”, “As coéforas” e “As eumênides”).

Há relatos de que Sófocles (495-406 a.C.) venceu seu primeiro festival de teatro em Atenas (do qual participou trinta e uma vezes) com sua primeira peça, hoje perdida, a qual derrotou Ésquilo na disputa teatral de 468 a.C. (4e) Como autor venceu ao todo pelo menos dezoito vezes esses festivais anuais, nunca tendo ficado em terceiro lugar.

SÓFOCLES

Como prolífico poeta, Sófocles escreveu e produziu mais de cento e vinte peças (duas em média por ano), das quais somente sete nos chegaram: “Ájax”, “Antígona”, “As traquínias”, “Édipo rei”, “Electra”, “Filoctetes” e “Édipo em Colono”. Para Aristóteles, Sófocles era o príncipe dos poetas dramáticos da Hélade e considerava “Édipo rei” a mais perfeita das tragédias gregas. Ressalta-se que não se pode examinar isoladamente a tragédia “Édipo rei” sem levar em conta as duas outras partes da trilogia, “Antígona” e “Édipo em Colono”.

Conhecido pelos antigos como “o filósofo do palco”, Eurípedes (480-406 a.C.) era o poeta trágico preferido de Sócrates, tendo mais referências sobre ele nos escritos de Platão e Aristóteles do que sobre Ésquilo e Sófocles. (4f) Em adição, na opinião de Werner Jaeger, registrada em seu clássico “Paideia”, Eurípides foi o primeiro psicólogo da história por ter descoberto um novo sentido para a alma que revelava o mundo problemático das emoções e paixões humanas. Esse poeta venceu sua primeira disputa no festival de teatro em Atenas na sua décima terceira participação, no ano de 442 a.C.

EURÍPIDES

Tendo escrito entre oitenta e noventa peças ao longo de uma carreira de cinquenta anos, Eurípedes, o último dos grandes trágicos gregos, nos deixou um legado de somente dezenove delas: Alceste, Medeia, Os heráclidas, Hipólito, Andrômaca, Hécuba, As suplicantes, Electra, Héracles, As troianas, Ifigênia em Táuris, Íon, Helena, As fenícias, Orestes, As bacantes, Ifigénia em Áulide, Os cíclopes e Reso.

A Realidade Inteligível

Considerado o fundador da metafísica ocidental, Platão (427-347 a.C.) descobriria e procuraria demonstrar que a realidade ou o ser não é de um único gênero e que além do cosmos sensível, existe também uma realidade inteligível que transcende o sensível, inaugurando assim o estudo das realidades que transcendem as realidades físicas. (3a) [O termo “metafísica” só foi cunhado muito posteriormente à Aristóteles, provavelmente por Andrônico de Rodes, no século I a.C.)

Seu verdadeiro nome era provavelmente Aristoclés, mas devido à largueza de sua mente, entrou na história da filosofia com o nome de “Platon” (significando “amplo”, “largo”). Platão já tinha quarenta anos quando estabeleceu sua escola filosófica, a “Academia”, nas proximidades de um parque dedicado ao herói Academos, de onde derivou o nome. Essa instituição, reunindo pensadores de todos os quadrantes do Império Romano, da Europa, da Ásia e da África, tornou-se o centro filosófico do mundo ocidental, constituindo, assim, o embrião da primeira universidade da Europa.

Platão é o único dos grandes filósofos da Antiguidade cujas obras completas chegaram até nós. De início, em seus escritos ele abordou uma problemática acentuadamente ético-política, partindo exatamente da posição à qual chegara seu mestre Sócrates. Posteriormente, deu-se conta da necessidade de recuperar os temas centrais da filosofia da physis abordados pelos pioneiros da filosofia grega, explorando, entretanto, uma perspectiva que se apresentou como uma autêntica revolução do pensamento através da descoberta do suprassensível (do ser suprafísico).

Podemos aferir a magnitude da obra desse ícone do pensamento do período clássico da Grécia Antiga através das palavras de importantes filósofos a ele direcionadas, tais como as do britânico Alfred North Whitehead (“Toda a filosofia ocidental não é mais do que uma série de notas de rodapé de páginas para Platão”), do americano Ralph Waldo Emerson (“Entre os livros seculares, só Platão tem direito ao cumprimento fanático de Omar para o Corão, quando disse: ‘Queimei as bibliotecas, pois que seu valor está neste livro’) e do brasileiro Huberto Rodhen (“Todo filósofo é platônico por natureza, embora nem todos desenvolvam dentre de si esse universalismo platônico latente”).

A edição dos 36 escritos atribuídos a Platão é usualmente organizada em nove tetralogias: (5a)

1. Eutífron (sobre a religiosidade socrática), Apologia de Sócrates, Críton (sobre o dever socrático), Fédon (sobre a alma socrática);

2. Crátilo (sobre a correção dos nomes), Teeteto (sobre o conhecimento), O Sofista (sobre o ser), A Política (sobre a realeza);

3. Parmênides (sobre as formas), Filebo (sobre o prazer), O Banquete, Fedro (sobre o belo socrático);

4. Alcebíades I, Alcebíades II, Hiparco, Os Amantes;

5. Teages, Cármides (sobre a temperança), Laques (sobre a coragem), Lísis (sobre a amizade);

6. Eutidemo (sobre a disputa), Protágoras (sobre os sofistas), Górgias (sobre a retórica), Menon (sobre a virtude);

7. Hípias menor (sobre o falso), Hípias maior (sobre o belo), Ion (sobre poesia e artes), Menexeno (oração fúnebre);

8. Clitofonte, A República (sobre o “Filósofo-Rei”), Timeu, Crítias;

9. Minos, As Leis, Epinome, Cartas

PLATÃO

“Parmênides”, “Sofista” e “Timeu” abordam, principalmente, a concepção central sobre o mundo das “Ideias” (Eidos: essência, forma, imagem original primitiva). “Fédon” desce às profundezas da especulação sobre a imortalidade e a metempsicose, constituindo um rico panorama de conceitos elaborados por Hermes Trimegistro, Pitágoras, Heráclito, Sócrates e outros pensadores da Antiguidade. “Fedro” continua a abordagem sobre a imortalidade. No centro de “A República” encontra-se o “mito da caverna”, mito que, por expressar Platão na sua totalidade, tem sido interpretado sucessivamente por muitos séculos como expediente utilizado por esse filósofo para simbolizar a metafísica, a gnosiologia, a dialética e até mesmo a ética e a mística platônicas.

Antigas fontes nos referem que, na “Academia”, Platão ministrou cursos intitulados “Sobre o bem”, nos quais discorria sobre realidades últimas e supremas, cujo teor ele não quis escrever, ensinamentos que passaram a ser conhecidos como as “doutrinas não escritas” do grande mestre. Platão estava convencido de que esses “princípios primeiros” não podiam ser transmitidas senão através de adequada preparação e de rigorosas observações, que só podem ocorrer no diálogo vivo e através do emprego oral da dialética. Entretanto, os discípulos que assistiram às lições escreveram essas doutrinas “Sobre o bem” e alguns desses escritos chegaram até nós, constituindo na atualidade ponto de referência essencial para compreensão do pensamento platônico na sua inteireza.s.

A Sistematização do Conhecimento

A descoberta da realidade inteligível por Platão fez com que seu discípulo de mais notório destaque, Aristóteles (384-322 a.C.), se dedicasse a distinguir a física propriamente dita, como doutrina da realidade física, da metafísica, precisamente como doutrina da realidade suprafísica, fazendo com que a física viesse a significar estavelmente ciência da realidade sensível. (3a) Os problemas morais também se especificaram, distinguindo-se os dois momentos da vida: o do homem individualmente e o do homem em sociedade. E, assim, nasceu a distinção dos problemas éticos propriamente ditos em relação aos problemas mais propriamente políticos.

A escola filosófica de Aristóteles em Atenas, o “Liceu”, teve seu nome escolhido por seus prédios ficarem localizados próximos a um templo sagrado dedicado a Apolo Lício. Pelo fato de Aristóteles frequentemente ministrar seus ensinamentos passeando pelas veredas do jardim anexo aos prédios, a escola também foi chamada de “Perípatos” (nome grego que significa “passeio”) e seus seguidores denominados “peripatéticos”.

Os escritos de Aristóteles dividem-se em dois grandes grupos: os “exotéricos” (destinados ao grande público, ou seja, às pessoas de fora de sua escola) e os “esotéricos” (dirigidos aos seus discípulos). O primeiro grupo de escritos perdeu-se completamente, dele restando apenas alguns títulos e pequenos fragmentos. No entanto, nos chegou a maior parte das obras esotéricas, todas tratando da problemática filosófica e de alguns ramos das ciências naturais. Acredita-se que os escritos exotéricos foram desenvolvidos ao longo dos vinte anos em que Aristóteles permaneceu como membro da “Academia” de Platão até a morte deste, enquanto que as obras esotéricas são em sua maioria constituídas pelos cursos ministrados por Aristóteles no “Liceu”.

ARISTÓTELES

Aristóteles é considerado o grande mentor da primeira sistematização ocidental do saber de várias áreas do conhecimento, através de uma vasta e rica bibliografia da qual boa parte dos seus escritos nos estão disponibilizadas. O “Corpus Aristotelicum” no seu ordenamento atual inclui, entre outros escritos: tratados de lógica (“Organon”), de filosofia natural (“Fisica”, “Metereologia”), de psicologia (“Sobre a alma”, “Parva naturalia”), de filosofia moral e política (“Ética a Nicômaco”, “Política”) e de ciências naturais (“História dos animais”), além das obras “Poética´”, “Retórica” e, a mais famosa de todas, “Metafísica” (constituída por catorze livros). (5b)

Aristóteles indicou como sucessor e guardião de seus manuscritos não publicados (as obras “esotéricas”), Teofrasto, um de seus mais brilhantes discípulos. Ao morrer, Teofrasto deixou os manuscritos de Aristóteles sob os cuidados de Neleu (sobrinho e discípulo de Teofrasto). Neleu levou os manuscritos para a Ásia Menor e, depois de sua morte, estes permaneceram por muitos anos sob os cuidados dos seus herdeiros. Porém, desde que viviam em região sob o domínio do reino de Pérgamo, os herdeiros de Neleu temiam que esses preciosos manuscritos pudessem ser expropriados pelos reis daquela região, desde que os mesmos estavam naquela época estruturando a Biblioteca de Pérgamo. Consequentemente, os herdeiros de Neleu esconderam os manuscritos de Aristóteles em uma caverna, acervo este que lá permaneceu por muitos anos e acabou sendo esquecido, até que um dia Apelicão, um bibliófilo e colecionador compulsivo de livros, ouviu falar sobre esses manuscritos perdidos e, depois de muita procura, adquiriu a sua posse e os levou de volta para Atenas. Pouco depois da morte de Apelicão, os manuscritos de Aristóteles foram confiscados pelo ditador e general romano Sila (86 a.C.), que os levou consigo para Roma e os encaminhou ao gramático Tirânion para transcrição. Por uma sorte do destino, na segunda metade do século I a.C. (quase três séculos depois da morte de Aristóteles), cópias dessas transcrições chegaram às mãos de Andrônico de Rodes (décimo sucessor de Aristóteles no “Liceu”) em Atenas, que devotou a maior parte dos seus anos restantes de vida para a tarefa de organizar as obras completas do último gênio da era grega clássica. (3a)

A cultura “helênica”, na sua difusão entre os vários povos, torna-se “helenística”. Essa difusão comportou, fatalmente, uma perda de profundidade e pureza. Entrando em contato com tradições e crenças diversas, a cultura helênica devia fatalmente assimilar alguns de seus elementos, fazendo-se sentir a influência do Oriente.

A grande expedição de Alexandre Magno, tendo estabelecido reinos nas mais diversas regiões por ele conquistadas, teve como importante consequência a difusão da cultura “helênica” nessas áreas, o que, em contrapartida, também provocou a assimilação de diversas tradições e crenças dessas culturas diversas, fazendo com que a cultura grega se tornasse “helenística”. Esse significativo processo de aculturação determinou uma reviravolta radical no espirito do novo mundo impregnado pela cultura grega, determinando o fim do Período Clássico e o início de uma nova era na história da Grécia Antiga, a Época Helenística. Duas das principais escolas filosóficas surgidas nessa época foram o epicurismo e o estoicismo.

A Filosofia do “Jardim”

A escola filosófica de Epicuro (341-270 a.C.) foi a primeira das grandes escolas helenísticas, surgindo em Atenas em torno de 306 a.C. com a intenção de trazer algo de novo ser dito – o início de uma “revolução espiritual” – em relação às escolas de Platão (a “Academia”) e de Aristóteles (o “Liceu”), cujos sucessores andavam deturpando as mensagens do fundadores já falecidos há algum tempo. (3a)

O lugar escolhido por Epicuro para a sua escola foi um prédio com um jardim nos subúrbios de Atenas. O Jardim estava longe do tumulto da vida na cidade e próximo do silêncio do campo, lugar apropriado para acolhimento da sensibilidade dessa nova filosofia. Por isso, os nomes “Jardim” e os “filósofos do Jardim” passaram a indicar respectivamente a escola e os seguidores de Epicuro.

A mensagem que vem de Epicuro pode ser resumida nestas poucas proposições gerais, cuja aplicação em si mesmo poderá fazer com que o homem adquira a paz de espírito e a felicidade que nada e ninguém poderão perturbar, pois o sábio é absolutamente “imperturbável”:

a) A realidade é perfeitamente penetrável e cognoscível pela inteligência do homem;

b) Nas dimensões do real existe espaço para a felicidade do homem (o prazer, quando o entendemos corretamente, está à disposição de todos);

c) A felicidade é ausência de dor e perturbação (o mal dura pouco ou é facilmente suportável);

d) Para atingir essa felicidade e essa paz, o homem só precisa de si mesmo (o pavor em relação à morte é absurdo, pois ela não é nada);

(e) Não lhe servem absolutamente a cidade e as instituições, a nobreza, as riquezas, todas as coisas e nem mesmo os deuses (são vãos os temores em relação aos deuses e ao além

LUCRÉCIO

Da grande produção de escritos de Epicuro foram reunidas integralmente as “Cartas” (endereçadas a Heródoto, a Pítocles e a Meneceu), duas coleções de “Máximas” e vários fragmentos. A contribuição tardia mais significativa para a disseminação do epicurismo viria do poeta romano Lucrécio (98-55 a.C.), através de sua obra “Sobre a natureza das coisas” (De rerum natura), que repete fielmente, através de um grande poema filosófico, a doutrina de Epicuro. (6a)

A Filosofia do “Pórtico”

Ainda no fim do século IV, a pouco mais de cinco anos da fundação da escola de Epicuro, nascia também em Atenas outra escola filosófica, destinada a tornar-se a mais famosa da época helenística, fundada por Zenão (332-262 a.C.). (3a)

Zenão ministrava suas aulas num pórtico e não num prédio. Desde que em grego “pórtico” diz-se stoá, a nova escola ficou conhecida com o nome de “Estoá” e seus seguidores foram chamados de “Estoicos”.

Como Epicuro, Zenão renegava a metafísica e toda forma de transcendência, da mesma forma ele concebia a filosofia no sentido de “arte de viver”, revogando, porém, duas ideias básicas do epicurismo: a redução do mundo e do homem a mero agrupamento de átomos e a identificação do bem do homem com o prazer. A parte mais significativa da filosofia do Pórtico é a sua perspectiva ética – Certamente, foi com sua mensagem ética que os estoicos, durante meio milênio, souberam dizer aos homens uma palavra verdadeiramente eficaz, que foi sentida como particularmente iluminadora, acerca do sentido da vida.

Para os estoicos, o escopo de viver é a obtenção da felicidade (assim como para os epicuristas), e a felicidade se persegue vivendo “segundo a natureza”. Nas plantas e vegetais, essa tendência é inconsciente; nos animais, é consignada ao instinto; já no homem, esse impulso é sujeito à intervenção da razão. Viver “conforme à natureza” significa, pois, viver realizando plenamente essa conciliação do próprio ser. Em particular, desde que o homem é ser racional, o viver segundo a natureza será um viver “conservando a si mesmo, apropriando-se do próprio ser e de tudo que é capaz de conservá-lo e atualizá-lo plenamente, evitando aquilo que lhe é contrário e conciliando-se consigo mesmo e com as coisas que são conformes à própria essência”.

EPÍTETO E MARCO AURELIO

Como um dos expoentes do neo-estoicismo, podemos ressaltar Epíteto (50-138 d.C.), escravo em Roma que ao ser liberto tornou-se renomado professor de filosofia. Ele não deixou nada escrito, porém um de seus mais dedicados alunos (Flávio Arriano) copiou cuidadosamente os ensinamentos transmitidos pelo mestre, tendo publicado esses registros em sua obra “Os Discursos de Epíteto”. (6b) Outro conhecido pensador neo-estoico foi o imperador romano Marco Aurélio (121-180 d.C.), cuja obra “Meditações” foi presumivelmente elaborada como um registro de pensamentos para uso pessoal e não para publicação, a qual foi quase que totalmente escrita ao longo de períodos em que esse imperador comandava os exércitos romanos em campos de batalha. (6c)

O Maior “Epistemocídio” da História ​

Ao conquistar o Egito, Alexandre Magno (o Grande) fundou a cidade de Alexandria em 331 a.C. a qual, após a sua morte, tornou-se a capital do reino sob o comando de Ptolemeu Sóter (“salvador”), anteriormente um general dos exércitos de Alexandre. (7) Este rei decidiu construir em Alexandria um grande “Museu” (“santuário das Musas” – as deusas das artes), instituição que tinha uma concepção diferente da nossa atual, cuja estrutura contemplava auditórios, bibliotecas, laboratórios e jardins botânicos. Seu sucessor, Ptolemeu Filadelfo convidou os mais ilustres sábios de todas as especialidades para virem se instalar em Alexandria (a maior parte era constituída de cientistas e filósofos vindos de Atenas).

O complexo de bibliotecas do “Museu”, conjunto conhecido como “Biblioteca de Alexandria”, tornou-se a principal atração para escritores, professores e cientistas de todas as partes do mundo. Seu primeiro curador e diretor, Demétrio de Faleros, era um distinto intelectual ateniense que havia atuado junto a Aristóteles, tendo sido o mentor da aquisição de mais de 600 mil manuscritos para a Biblioteca provindos das mais longínquas regiões (Índia, Pérsia, Geórgia, Armênia, Babilônia, Judeia), quase todos constituídos de rolos de papiro (De uma forma geral, um rolo de papiro consistia numa média de vinte folhas).

Os Ptolemeus não se opunham a fazer qualquer gasto para aquisição de obras para a Biblioteca. Conta-se que Ptolemeu Filadelfo tomou emprestado para serem copiados para a Biblioteca os originais das peças dos grandes poetas trágicos atenienses. Como garantia, Ptolemeu foi obrigado a fazer um depósito de quinze talentos de ouro, mas quando o trabalho de cópia finalizou, o rei preferiu perder o dinheiro, ficando com os originais e devolvendo as cópias para Atenas.

A partir dessa inestimável coleção de obras de diversas partes do mundo disponibilizadas em Alexandria, os acadêmicos afiliados à Biblioteca puderam produzir edições estruturadas dos mais importantes clássicos gregos (obras de Hesíodo, Píndaro, Ésquilo, Sófocles entre outros autores). Com tantas mentes brilhantes atuando numa mesma instituição, a Biblioteca de Alexandria tornou-se o centro cultural dos mundos oriental e ocidental ao longo de todo o período entre 300 a.C. e 642 d.C. Nesse cenário, a cidade de Alexandria rivalizava com Atenas e Roma, muitas vezes superando-as como uma meca cultural, política e intelectual.

CLEÓPATRA

Cleópatra era filha de Ptolemeu XII, nasceu em Alexandria e foi rainha do Egito no período de 51 a 30 a.C. Além de possuidora de grande beleza física, essa rainha era considerada uma brilhante linguista que raramente necessitava de intérpretes para conversar com estrangeiros. Com uma grande capacidade de sedução, Cleópatra teve relacionamentos amorosos com Júlio César (com quem teve um filho), com Marco Antônio (com quem teve dois filhos), tendo posteriormente tentado também encantar o imperador Otaviano quando o Egito tornou-se província romana em 30 a.C. Por ter paixão por artes e ciências em adição aos seus talentos linguísticos, Cleópatra patrocinou grandes artistas e cientistas do Museu e adquiriu para Alexandria, contando com a influência de Marco Antônio, a famosa Biblioteca de Pérgamo (antiga cidade grega na Eólia, hoje território da Turquia) que detinha algo como 250 mil obras em seu acervo e era a segunda maior do mundo grego antigo depois da Biblioteca de Alexandria.

No ano de 641, dez anos após a morte do profeta Maomé, o Egito foi dominado por uma exército de 4.000 homens sob o comando do general Amru, um gênio militar que, apesar de ser culto e gostar de poesia, ordenou a destruição completa do enorme acervo remanescente da Biblioteca de Alexandria, o qual já tinha sido parcialmente dilapidado pelos monges cristãos fanáticos que tinham assassinada a filósofa Hipácia (diretora da escola platônica de Alexandria). Manuscritos e rolos de papiro de valor incalculável foram descartados para serem utilizados como combustível para aquecimento de todos os quatro mil banhos públicos da cidade, sendo que o volume de obras a ser destruído era tal que foi suficiente para o aquecimento de água durante seis meses.

Antes da destruição final da Biblioteca de Alexandria pelos maometanos, o patriarca cristão tentou de forma bem diplomática convencer o general árabe Amru sobre a importância de se preservar esse patrimônio cultural de valor inestimável para a humanidade independentemente de crenças religiosas. Amru chegou a ficar sensibilizado pelo sincero apelo do patriarca que chegou mesmo a implorar para o general mudar de ideia, tendo então enviado uma carta para o califa consultando o mesmo sob o apelo do patriarca. Várias semanas depois, o califa respondeu:

“Os assuntos desses livros ou estão de acordo com os ensinamentos do Corão ou a eles se opõem. Se estão de acordo, então esses livros são inúteis desde que o Corão é suficiente em si mesmo. Se contrariam o Corão, esses livros são perniciosos e devem ser destruídos”.

O Livro dos Livros

A mensagem bíblica constituiu uma grande revolução espiritual que mudou radicalmente a proposição do pensamento antigo, constituindo uma premissa indispensável para a compreensão do posterior pensamento medieval, desde que todo o pensamento medieval foi visto na ótica da problemática entre fé e razão. (3a)

A filosofia grega subestimara a fé ou crença (pístis) do ponto de vista cognoscitivo, pois dizia respeito às coisas sensíveis mutáveis, sendo portanto, uma forma de opinião (dóxa), enquanto que, em seu conjunto, o ideal da filosofia clássica era o epistéme (conhecimento). Os pensadores gregos viam no conhecimento a virtude por excelência do homem e a realização da essência do próprio ser. A nova mensagem trazida pela Bíblia exige do homem precisamente uma superação dessa dimensão, invertendo os termos do problema e pondo a fé acima da ciência.

Essa mensagem subversiva de todos os esquemas tradicionais dá origem a uma nova antropologia: o homem não seria mais simplesmente visto em duas dimensões, “corpo” e “alma” (entendendo-se aqui “alma” como “razão” e “intelecto”), mas sim em três dimensões: “corpo”, “alma” e “espírito”, em que “espírito” é exatamente essa participação no divino através da fé, conferindo assim ao homem uma nova estatura ontológica.

A palavra “Bíblia” vem do grego biblía (plural de biblíon) que significa “livros”. É um plural que, no latim foi transliterado como singular para indicar o “livro” por antonomásia.

Os textos da Bíblia foram redigidos em três línguas: hebraico (a maior parte do Antigo Testamento), uma pequena parte em Aramaico (dialeto hebraico falado por Jesus) e em grego (alguns textos do Antigo Testamento e todo o Novo Testamento). (8a) Duas traduções basilares tiveram uma grande importância histórica. Uma, em língua grega, de todo o Antigo Testamento: a chamada tradução dos “Setenta” (Septuaginta), iniciada em Alexandria sob o reinado de Ptolemeu Filadelfo, que arregimentou setenta rabinos para essa tarefa. A outra foi a tradução em latim, feita a partir do século II d.C. Entretanto, a tradução feita por são Jerônimo, entre 390 e 406 d.C. foi a que se impôs de modo estável, a ponto de ser oficialmente adotada pela Igreja, sendo conhecida com o nome de “Vulgata” (feminino de vulgatus: que é de uso público) por ser considerada a tradução latina por excelência.

A Bíblia se divide em dois grandes Testamentos (do grego Diatheké: pacto ou aliança): (8b)

ANTIGO TESTAMENTO – conjunto de livros redigidos a partir de aproximadamente 1300 a.C. até 100 d.C., sendo que os primeiros deles baseiam-se em uma tradição oral antiquíssima. Os livros do Antigo Testamento reconhecidos como canônicos pela Igreja Católica são os quarenta e seis sancionados pelo Concílio de Trento (1545-1563). Entretanto, os hebreus adotaram apenas trinta e seis livros, o mesmo cânone que foi adotado pelos protestantes.

NOVO TESTAMENTO – livros que remontam ao século I d.C., centrando-se inteiramente na mensagem de Cristo. Os livros reconhecidos como canônicos são vinte e sete.
A Refundação da Metafísica

A Refundação da Metafísica

Depois de ter vivido um tempo em Alexandria, Plotino (205-270 d.C.) abre uma escola filosófica de enorme prestígio em Roma, a qual não se assemelhava a nenhuma das escolas conhecidas anteriores: a “Academia” do platonismo visou formar homens que deveriam renovar o Estado; o “Liceu” do aristotelismo teve como objetivo organizar a busca do saber; o “Pórtico” do estoicismo e o “Jardim” do epicurismo desenvolveram movimentos espirituais para dar aos homens a ataraxia, ou seja, a paz e a tranquilidade da alma. (3a) Já a escola de Plotino queria ensinar aos homens o modo de libertarem-se da vida daqui de baixo para irem reunir-se ao divino e poder contemplá-lo, até o ponto culminante de uma transcendente “união extática”.

Caracterizado como um filósofo neoplatônico que surge seiscentos anos depois de Platão, Plotino desenvolveu posições que são novas em relação tanto a Platão como a Aristóteles, realizando uma verdadeira refundação da metafísica clássica e alcançando picos ainda mais elevados do que os atingidos por esses dois ícones da filosofia grega antiga.

PLOTINO

Plotino escreveu cinquenta e quatro tratados, dividindo-os em seis grupos de nove (por influência do significado metafísico do número nove), de onde se inspirou para escolher o título do conjunto desses escritos, “Enéadas” (ennea = nove), que chegaram integralmente até os nossos dias. (9) Juntamente com os diálogos platônicos e os escritos aristotélicos esotéricos, as “Enéadas” contêm uma das mais elevadas mensagens filosóficas da Antiguidade e do Ocidente, ressaltando-se o pensamento com que se conclui essa obra: “E eis a vida dos deuses e dos homens divinos e bem-aventurados: separação do resto das coisas daqui de baixo, vida a que não apraz mais coisa terrena, a fuga de só para só”. As últimas palavras emitidas por Plotino, ao falecer com sessenta e seis anos de idade, soam como um testamento espiritual para ratificação de sua doutrina: “Procurai conjugar o divino que há em vós com o divino que há no universo”. (3a)

Era uma vez…

Esopo (620 – 564 a.C.) foi um escritor da Grécia Antiga a quem são atribuídas várias fábulas populares, sendo “A cigarra e a formiga”, “A tartaruga e a lebre” e “A raposa e as uvas” algumas das suas histórias mais conhecidas. A ele se atribui a paternidade das fábulas como gênero literário, tendo seus contos se disseminado em muitas línguas pela tradição oral. As fábulas de Esopo serviram como base para recriações de outros escritores ao longo dos séculos, como Fedro e La Fontaine.

Durant, ainda em sua obra “A história da civilização – IV”, pondera que os contos são tão antigos como o Islã ou Adão, enfatizando que as “Fábulas” e “As mil e uma noites” são os livros mais lidos do mundo depois da Bíblia. Considerando esses dois livros como as mais fabulosas dessas histórias, ele nos relata que as “Fábulas” de Bidpai (a origem das fábulas atribuídas a Bidpai, também conhecidas por fábulas de Calila e Dimna, está no Panchatantra, recolha de textos e fragmentos de origem incerta) foram levadas da índia para a Pérsia no século VI, traduzidas do sânscrito para o pálavi e deste para o árabe, versão que foi traduzida para outras 40 línguas. Há referências também no século VI sobre um livro persa (“Mil histórias”) que foi traduzido para o árabe como “Mil e uma noites”, cujo manuscrito incompleto foi enviado da Síria para a França no início do século XVIII e traduzido para todas as línguas europeias, possibilitando que crianças de todas as nações e idades criassem fantasias com as aventuras transcritas em “Simbad, o marujo”, “A lâmpada de Aladim” e “Ali Babá e os quarenta ladrões”.

O MENOR CONTO DE FADAS DO MUNDO

Era uma vez uma vez que não era, em que, por um breve momento, eles foram felizes para sempre. (J.J. Smith)

CLÁSSICOS ADICIONAIS DO PERÍODO (3000 a.C. – 1300 d.C.)

(2), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17)

Vyasa (“O Mahabharata”), Valmiki (“Ramayana”), “Beowulf”, Chrétien de Troyes (“Lancelote”), Virgílio (“Eneida”), Ovídio (“Metamorfoses”), Lucius Apuleio (“Asno de ouro”), Omar Khayyam (“Rubayat”), santo Agostinho (“As confissões”, “A cidade de Deus”), Tomás de Aquino (“Suma Teológica”)

4. Do Renascimento ao Iluminismo (1300 – 1800)

Como um importante movimento cultural iniciado no século XIV na Europa, o Renascimento caracteriza-se primordialmente pela mudança de atitudes da era medieval – dominada pelos dogmas da Igreja Católica – para uma perspectiva mais humanista, através da redescoberta da cultura e da filosofia greco-romana antiga, acrescida de inovações na área científica desenvolvidas no período posterior conhecido como a Idade da Razão. (2)

Os escritores de literatura agora preferem escrever em línguas vernáculas do que em grego e latim, criando suas próprias narrativas ao invés de recontar histórias do passado. Alguns escolhem focar a vida das pessoas comuns em substituição aos épicos e às lendas. A invenção da imprensa no século XV por Gutenberg possibilitou a disseminação de ideias escritas numa escala até então nunca vista. Durante o século XVI, as narrativas em prosa foram substituindo o poema épico como forma literária predominante em quase toda a Europa, estimulando a demanda popular por livros.

Chamam-se incunábulos os livros publicados desde a invenção dos tipos móveis por Gutemberg em 1455 até o ano de 1500. O nome vem de “cuña”, ou berço, no caso berço da imprensa. A quantidade de títulos publicados foi espantosa – cerca de 35.000 em 45 anos! – e a Alemanha e Itália foram os países de maior produção. (19)

CLÁSSICOS FUNDAMENTAIS DO PERÍODO (1300 – 1800)

(2), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17)

Thomas Malory (“Gawain” e “O cavaleiro verde”), Dante (“A divina comédia”), Chaucer (“Os contos de Canterbury”), Rabelais (“Gargântua e Pantagruel”), Camões (“Os Lusíadas”), Marlowe (“Doutor Fausto”), Cervantes (“Dom Quixote”), Shakespeare (“Comédias, histórias e tragédias”), Molière (“O misantropo”), Padre Antônio Vieira (“Os sermões”), Defoe (“Robinson Crusoé”), Voltaire (“Cândido”), Boccaccio (“Decamerão”), Milton (“O paraíso perdido”), Swift (“As viagens de Gulliver”), Fielding (“Tom Jones”), Sterne (“Tristam Shandy”), Goethe (“Os sofrimentos do jovem Werther”), Blake (“Canções de inocência e de experiência”), Diderot (“Jacques, o fatalista, e seu amo”), Maquiavel (“O príncipe”), Montaigne (“Ensaios”), Hobbes (“Leviatã”), Rousseau (“Confissões” e “Do contrato social”), Boswell (“Vida de Samuel Johnson”), Hume (“Tratado da natureza humana”), Bacon (“Ensaios”), Descartes (“Discurso sobre o método”), Espinoza (“Ética”), Pascal (“Pensamentos”), Berkeley (“Princípios do conhecimento humano”), Hume (Investigação sobre o entendimento humano”), Kant (“Crítica da razão pura” e “Crítica da razão prática”)

SHAKESPEARE

Ninguém foi capaz de explicar de maneira convincente como é que um homem que abandonou a escola antes do tempo, filho de comerciante, nascido e criado na estagnação de Stratfor-upon-Avon, cujo principal interesse na carreira parece ter sido acumular dinheiro suficiente para se aposentar, tornou-se o maior escritor que o mundo de língua inglesa já conheceu. Shakespeare (1564-1616) saiu da escola na adolescência e, por um ano ou dois, provavelmente trabalhou para seu pai. Casou-se aos dezoito anos, teve duas filhas e um filho, Hamnet, que morreu na infância e cuja memória é honrada na sua peça mais famosa. Ao longo de uma carreira de vinte anos, O dramaturgo e poeta escreveu 37 peças (ocasionalmente com colaboradores), bem como vários poemas. Shakespeare é o maior escritor do mundo anglófono? Sem dúvida. Quando visto por todos os lados, contudo, ele não é o mais fácil ou o mais confortável. Isso, claro, faz parte de sua grandeza. (1)

GOETHE

Goethe (1749-1832), apesar de ter adquirido uma caligrafia elegante com um “magister artis scribendi”, ditou suas grandes obras para um copista. (18)

PASCAL

Algumas obras são grandiosas porque não foram terminadas. Se “Pensamentos” tivesse sido concluído em uma obra apologética, isso teria empobrecido a própria obra, ela teria adquirido uma forma racionalizadora. Foi a morte prematura de Pascal que determinou sua condição de obra prima. (13)

5. Do Romantismo à Vida como Ela É (1800 – 1900)

Grandes mudanças aconteceram na Europa no final do século XVIII. (2) Através do Iluminismo (Idade da Razão), avanços científicos haviam preparado o terreno para a Revolução Industrial, assim como o surgimento de novos ideais desaguou nas revoluções políticas da América do Norte e da França. A crescente urbanização da sociedade e a expansão do trabalho na indústria provocam uma significativa mudança no modo de vida das pessoas.

Como consequência natural do zeitgeist vigente na época do Renascimento e do Iluminismo, humanidade e razão despertavam de forma compartilhada o interesse cultural das pessoas. Entretanto, no começo do século XIX, em parte como reação à frieza provocada pela Idade da Razão, o aspecto humano torna-se mais relevante, fazendo surgir um movimento artístico focado em questões subjetivas, tais como sentimentos, intuição, imaginação e emoção, movimento esse denominado então de romantismo.

À medida em que ocorria a industrialização da sociedade, os níveis de alfabetização cresciam, fazendo com que a literatura deixasse de ser exclusividade de uma elite educada. Os romances, em particular os históricos, tiveram um grande crescimento de demanda na Europa e nos Estados Unidos do século XIX. Em adição, aumenta a procura por histórias folclóricas e contos de fadas. Também em decorrência da elevação do grau de alfabetização surge uma grande variedade de novos escritores.

CLÁSSICOS FUNDAMENTAIS DO PERÍODO (1800 – 1850)

 (2), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17)

Goethe (“Fausto”), Irmãos Grimm (“Contos”), Walt Whitman (“Folhas de relva”), Jane Austen (“Orgulho e Preconceito” e “Razão e sensibilidade”), Dumas (“Os três mosqueteiros”), Charlotte Brontë (“Jane Eyre”), Dickens (“A casa soturna”), Walter Scott (“Ivanhoé”), Stendhal (“O vermelho e o negro”), Andersen (“Contos de fadas”), Dickens (“Oliver Twist” e “David Copperfield”), Poe (“Contos do grotesco e arabesco”), Melville (“Moby Dick”), Balzac (“O pai Goriot”, “Um aconchego de solteirão” e “Prima Bete”), Emily Brontë (“O morro dos ventos uivantes”), Gogol (“Almas mortas” e “O inspetor geral”), Dumas (“O conde de Monte Cristo”), Thackeray (“A feira das vaidades”), Nathaniel Hawthorne (“A letra escarlate”), John Keats (“Poemas”), Schopenhauer (“O mundo como vontade e representação” e “Parerga e Paralipomena”), Emerson (“Ensaios”), Thoreau (“Walden”)

WHITMAN

Crítica literária sobre Whitman coletada por Umberto Eco: “Walt Whitman tem com a arte a mesma relação de um porco com a matemática.” (20)

AUSTEN

Jane Austen (1775-1817) está entre os maiores nomes do romance Inglês. Seu romance “Orgulho e preconceito” foi escolhido por votação, em 2012, o romance mais influente da língua inglesa. Tendo vendido apenas algumas centenas de cópias em vida (morreu com 41 anos), Austen alcançou um público de dezenas de milhões dois séculos após sua morte. (1)

POE

Um pescador encontrou a obra “Tamerlane e outros poemas”, de Edgar Allan Poe [poema publicado em 1827 através de somente 50 cópias], debaixo de uma pilha de tratados sobre agricultura, num celeiro de antiguidades em New Hampshire, em 1988, e comprou por 15 dólares. Ele foi leiloado na Sotheby’s naquele mesmo ano por 198 mil dólares. (18)

MELVILLE

Em 1851, “Moby Dick” foi recusado na Inglaterra com a seguinte avaliação: “Não achamos que possa funcionar no mercado da literatura para jovens. É longo, de estilo antiquado, e cremos que não merece a reputação de que parece gozar.” (20)

BALZAC

Crítica literária sobre Honoré de Balzac coletada por Umberto Eco: “Em seus romances não há nada que revele particulares dotes imaginativos, nem a trama, nem os personagens. Balzac jamais ocupará um lugar de destaque na literatura francesa.” (20)

EMILY BRONTË

Crítica literária sobre “O morro dos ventos uivantes” coletada por Umberto Eco: “O único consolo que nos restará é o pensamento de que o romance nunca será popular.” (20)

O romance se encontrava solidamente estabelecido como forma predominante de literatura em meados do século XIX. (2) Havia, então, um grande número de leitores pelo mundo todo demandando a produção de nova ficção, já que a leitura não se encontrava mais restrita a uma elite cultural. A nova característica desse leitor era que este buscava livros que tivessem alguma relevância para as suas próprias experiências da vida como ela é. Dessa forma, o estilo literário denominado realismo ganha força, cuja abordagem desenvolve uma ficção sobre pessoas comuns e sua vida diária.

Desde que o realismo buscava autenticidade na ficção, devotou-se uma atenção especial na literatura produzida nesse período para a vida dos trabalhadores, contemplando as condições desumanas do campesinato e do trabalho industrial como uma forma de protesto político e social contra essa situação.

CLÁSSICOS FUNDAMENTAIS DO PERÍODO (1850 – 1900)

(2), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17)

Tolstói (“Guerra e paz”, “Anna Kariênina” e “A morte de Ivan Ilitch”), Flaubert (“Madame Bovary” e “A educação sentimental”), Baudelaire (“As flores do mal”), Victor Hugo (“Os miseráveis” e “O corcunda de Notre-Dame”), Lewis Carroll (“Alice no país das maravilhas”), Dostoiévsky (“Crime e castigo”, “Os irmãos Karamázov” e “O idiota”), George Eliot (“Middlemarch” e “Daniel Deronda”), Júlio Verne (“Vinte mil léguas submarinas”), Henry James (“Retrato de uma senhora”), Mark Twain (“As aventuras de Huckleberry Finn” e “As aventuras de Tom Sawyer”), Émile Zola (“Germinal” e “Thérèse Raquin”), Oscar Wilde (“O retrato de Dorian Gray”), Dickens (“Um conto de duas cidades” e “Grandes esperanças”), Ibsen (“Casa de bonecas” e “Peer Gynt”), Louis Stevenson (“O médico e o monstro” e “A ilha do tesouro”), Eça de Queirós (“Os Maias”, “O crime do padre Amaro” e “O primo Basílio”), Anton Tchekov (“Tio Vânia”, “A gaivota” e “O jardim das cerejeiras”), Edgar Morin (“O método”)

TOLSTÓI

À medida que iam envelhecendo, a tensão entre Tolstói e sua esposa aumentava, fazendo com que ele registrasse: “Não há tragédia maior do que a tragédia do leito conjugal”. Até que um dia, com 82 anos, o escritor russo não suportou mais essa situação e abandonou a família, fugindo no meio de uma noite gelada de inverno. Em decorrência, Tolstói pegou pneumonia e morreu na estação ferroviária enquanto aguardava o trem. (14)

FLAUBERT

Flaubert, em 1856, viu repelida sua “Madame Bovary” com esta carta: “Cavalheiro, o senhor sepultou seu romance num cúmulo de detalhes que são bem desenhados, mas totalmente supérfluos.” (20)

OSCAR WILDE

Oscar Wilde teve a sensatez de mudar da composição em verso, seu primeiro amor, para uma comédia teatral imensamente popular. Foi atrás do dinheiro. Questionado sobre a correção dessa atitude profissional, prontamente contra-atacou: “Por que razão eu deveria escrever para a posteridade? O que a posteridade já fez por mim?” (1)

DICKENS

Poucas pessoas discordariam da ideia de que Charles Dickens (1812-1870) é o melhor romancista britânico que já levou a pena ao papel. Que outro romancista teve sua imagem estampada tanto numa cédula quanto num selo? Que outro romancista vitoriano ainda vende um milhão de cópias de suas obras todos os anos? Na celebração dos duzentos anos de seu nascimento em 2012, o primeiro-ministro e o arcebispo da Cantuária declararam ambos que Dickens era um escritor de estatura shakespeariana. (1)

6. Rumo à Pós-Modernidade (1900 – 2000)

O novo século se caracteriza na literatura pelo abandono do realismo anteriormente vigente para dar lugar a formatos visivelmente modernos. (2) Alguns autores, influenciados pela filosofia existencialista e por outras novas linhas filosóficas, criam um mundo fantástico e frequentemente assustador, abordando personagens alienados na sociedade moderna. Outros romancistas adotam o “fluxo de consciência” (William James) como forma, influenciados por teorias psicológicas. Entretanto, ainda sobrou espaço no modernismo também para as narrativas em prosa mais convencionais.

CLÁSSICOS FUNDAMENTAIS DO PERÍODO (1900 – 1950)

(2), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17)

Kafka (“A metamorfose”, “O processo”, e “Carta ao pai”), Fernando Pessoa (“Livro do desassossego”), T.S. Eliot (“A terra desolada”), James Joyce (“Ulisses”, “Retrato do artista quando jovem” e “Dublinenses”), Khalil Gibran (“O profeta”), Thomas Mann (“A montanha mágica” e “A morte em Veneza”), F. Scott Fitzgerald (“O grande Gatsby” e “Suave é a noite”), Marcel Proust (“Em busca do tempo perdido” e “No caminho de Swann”), D. H. Lawrence (“Filhos e amantes”), Herman Hesse (“Sidarta”, “Demian” e “Lobo da Estepe”), Virginia Woolf (“Mrs. Dalloway”, “Ao farol” e “As ondas”), William Faulkner (“O som e a fúria”), Aldous Huxley (“Admirável mundo novo”), Henry Miller (“Trópico de câncer”), Jack London (“O grito da selva”), John Steinbeck (“Ratos e homens” e “As vinhas da ira”), Sartre (“A náusea”), Toni Morrison (“A canção de Salomão”), Margareth Mitchel (“E o vento levou”), Bertold Brecht (“Mãe coragem e seus filhos”), Albert Camus (“O estrangeiro”), Jorge Luis Borges (“Ficções”), George Orwell (“A revolução dos bichos”)

KAFKA

Franz Kafka (1883-1924) foi um dos escritores mais influentes do séc. XX. Mesmo tendo um doutorado em direito, trabalhava como atuário numa Companhia de Seguros até morrer de tuberculose, aos 40 anos. Ele instruiu seu amigo e depositário Max Brod a queimar seus restos literários, “de preferência sem lê-los”, após sua morte. Brod, entretanto, contrariou a instrução recebida do escritor e quase toda a sua obra foi publicada post-mortem. Kafka tinha uma relação problemática com seu pai, um homem de negócios não muito cordial. Sempre que Franz, nervoso, dava uma das suas obras para o pai, este a devolvia sem ter lido nada. (1)

PROUST

Marcel Proust (1871-1922), morto aos 52 anos, em seu enorme romance autobiográfico, “Em busca do tempo perdido”, cuja finalização tomou quinze anos e sete volumes, parte da ideia de que a vida é vivida para a frente, mas entendia para trás. (1)

WOOLF

A inglesa Virginia Woolf (1882-1941) é considerada a maior romancista inglesa do período modernista. Durante sua vida suas obras venderam apenas às centenas. Se não fosse proprietária, justamente com o marido, da editora que as lançava, ela poderia muito bem ter tido dificuldade para conseguir sequer publicar essas centenas. Sua obra está hoje disponível por toda parte, em centenas de milhares de exemplares, e é estudada por todos os cantos no mundo anglófono. Já em sua infância, percebeu-se que sua mente era perturbada. Ela teve seu primeiro colapso nervoso com menos de treze anos de idade. Depois de ter sofrido um incapacitante colapso nervoso, em torno de 1941, e temendo ser possuída por uma loucura permanente, Virgínia foi até um rio perto de onde morava, encheu os bolsos de casaco com pedras e se afogou. (1)

MARGARET MITCHELL

Margaret Mitchell era uma jovem jornalista. Tendo quebrado o tornozelo, enquanto trabalhava, estava de cama quando começou a escrever um “romance da Guerra Civil”. Ela arrematou a obra em poucos meses, antes de voltar a caminhar. Recuperada, deixou o manuscrito num armário por seis anos. Lá ele poderia ter ficado, não fosse Mitchell ter recebido a incumbência de mostrar a cidade para um editor em 1935. O editor estava em busca de material novo, e quando Margaret mencionou seu romance de passagem, convenceu-a a deixá-lo ver o dilapidado manuscrito. “E o vento levou”, o único romance publicado por essa jornalista, foi aceito de imediato e lançado sem demora, com publicidade colossal. Tornou-se um best-seller desenfreado. O romance permaneceu no topo da lista dos mais vendidos por dois anos e ganhou um Prêmio Pulitzer. Mitchell vendeu os direitos cinematográficos à MGM por 50 mil dólares, e o livro foi adaptado por David Selznick, com Vivian Leigh e Clark Gable como estrelas principais, tendo-se produzido um filme que é escolhido com frequência, em enquetes, como o maior filme de todos os tempos. (1)

A literatura posterior à Segunda Guerra Mundial ficou inevitavelmente marcada por essa indelével cicatriz do século XX, situação observada na obra não somente dos autores judeus como também daqueles dos países mais abalados pelo conflito. (2) O sofrimento desse período também gerou como consequência uma expressão de revolta na cultura pós-guerra, através da reação de uma geração mais jovem contrária às gerações anteriores que a levaram a duas grandes guerras.

CLÁSSICOS FUNDAMENTAIS DO PERÍODO (1950 – 2000)

(2), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17)

George Orwell (1984), J. D. Salinger (“O apanhador no campo de centeio”), Vladimir Nabokov (“Lolita”), Samuel Beckett (“Esperando Godot”), Günter Grass (“O tambor”), Julio Cortázar (“O jogo da amarelinha”), Joseph Heller (“Ardil-22”), Truman Capote (“A sangue frio” e “Bonequinha de luxo”), Gabriel García Márquez (“Cem anos de solidão”, “O amor nos tempos de cólera” e “O outono do patriarca”), Hemingway (“O velho e o mar” e “Por quem os sinos dobram”), Harper Lee (“O sol é para todos”), Ray Bradbury (“Fahrenheit 451”), William Golding (“O senhor das moscas”), Tolkien (“O senhor dos anéis”), Thomas Kuhn (“A estrutura das revoluções científicas”), Jack Kerouac (“On the road”), Boris Pasternak (“Doutor Jivago”), Ken Kesey (“Um estranho no ninho”), Mario Vargas Llosa (“A cidade e os cães”), Norman Mailer (“Os exércitos da noite”), Karl Popper (“A sociedade aberta e seus inimigos”), Bernard Shaw (“Pigmaleão”), John Fowles (“A mulher do tenente francês”), Richard Yates (“Foi apenas um sonho”) Salman Rushdie (“Filhos da meia-noite”), Umberto Eco (“O nome da rosa”), José Saramago (“Ensaio sobre a cegueria” e “Memorial do convento”), Howard Fast (“Os imigrantes”), Jean Auel (“Ayla, a filha das cavernas”) Isabel Allende (“A casa dos espíritos”), Gaston Bachelard (“A psicanálise do fogo”), Michael Ondaatje (“O paciente inglês”), Yann Martel (“As aventuras de PI”), Khaled Hosseini (“O caçador de pipas”)

FAHRENHEIT 451

“Fahrenheit 451”, título do livro de Ray Bradbury, é a temperatura na qual o papel impresso pega fogo espontaneamente. Bradbury o escreveu em 1953, inspirado pela chegada da televisão como meio de massa desde que, na sua visão, a ascensão da TV seria a morte do livro. Para esse escritor, a televisão seria um narcótico que viabilizaria um poder sobre a população do qual nenhum ditador jamais desfrutara. O herói de “Fahrenheit 451” é um “bombeiro” cujo trabalho não é apagar incêndios, mas queimar quaisquer livros que tenham restado. Durante o trabalho, o herói recolhe um livro ao acaso de uma fogueira da qual foi incumbido e se torna, a partir desse momento, um leitor e um rebelde. Acaba se refugiando fora da cidade, com uma comunidade cujos integrantes compartilham o mesmo ideal, memorizam grandes obras literárias e se tornam, eles mesmos, livros vivos. (1)

BERNARD SHAW

Shaw encontrou certa vez um de seus livros num sebo, dedicado “Para …. com afeto, George Bernard Shaw”. Ele comprou-o e devolveu-o ao antigo dono, acrescentando a linha “Com renovado afeto, George Bernard Shaw”. (18)

7. Sugestão de Leitura por José Mindlin“

Estes três autores – Machado de Assis, Guimarães Rosa e Marcel Proust – são os que eu levaria comigo se tivesse de ir definitivamente para uma ilha deserta”.[

Alguns dos autores e livros que marcaram minha vida]: Homero; Platão; Montaigne (Ensaios); Shakespeare (Mesmo quem não o leu ouviu falar de Romeu e Julieta, Hamlet, Macbeth, Sonho de uma noite de verão ou A tempestade…) [provavelmente um dos autores mais lidos e traduzidos no mundo]; “As mil e uma noites” (glória do mundo árabe que não tem autoria conhecida … Sinbad, o Marujo; Ali-babá e os quarenta ladrões; A lâmpada de Aladim…); Proust (Em busca do tempo perdido); Guimarães Rosa (Grande sertão: veredas, Sagarana, Corpo de baile); Somerset Maugham (A servidão humana); “Aventuras do Barão de Munchhausen”; Miguel de Cervantes (Dom Quixote de La Mancha); Luís de Camões (Os Lusíadas); Dostoiévski (Os irmãos Karamazov, Recordações da casa dos mortos, Crime e castigo, O idiota); Tolstoi (Guerra e paz, Anna Karenina); Tchekhov (O jardim das cerejeiras); Proust (Em busca do tempo perdido); Machado de Assis (Memórias póstuma de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Memorial de Aires); Balzac (Pai Goriot, Ilusões perdidas, Esplendor e miséria de uma cortesã, A comédia humana [mais de dois mil personagens que aparecem nos cerca de noventa romances que compõe a “A comédia humana”); Molière (peças e poemas); Voltaire (Cândido); Montesquieu (O espírito das leis, As cartas persas); Diderot (A religiosa, Jacques – o fatalista, As joias indiscretas; Daniel Defoe (Robinson Crusóe [livro menciona a presença do personagem no Brasil]); Jonathan Swift (As viagens de Gulliver); Laurence Sterne (Tristram Shandy, Viagem sentimental); Henry Fielding (Tom Jones); Charles Dickens (David Copperfield, Oliver Twist, Grandes expectativas); Stendhal [pseudônimo de Henri Beyle] (O vermelho e o negro, A cartucha de Parma); Gustave Flaubert (Madame Bovary, Educação sentimental); Eça de Queiroz (Os Maias, O primo Basílio); Alexandre Dumas (Os três mosqueteiros, Vinte anos depois, O conde de Monte Cristo); Victor Hugo (Os miseráveis, Nossa Senhora de Paris); Bernard Shaw (peças); Virginia Woolf (Orlando, Mrs. Dalloway); José Saramago (Memorial do convento, O Evangelho segundo Jesus Cristo); Manuel Bandeira (poemas); Carlos Drummond de Andrade (poemas); Cecília Meireles [uma poeta que não gostava do feminino “poetisa”]; João Cabral de Melo Neto, Mario Quintana, Adélia Prado [“A borboleta pousada ou é Deus ou é nada” / “De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo” / “A palavra foi inventada para ser calada”], Manoel de Barros, Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud, Paul Verlaine, Paul Éluard (poemas); José de Alencar (O Guarani, Iracema, Lucíola, Senhora, O gaúcho, O tronco do ipê, Til, O sertanejo); Aluísio Azevedo (O livro de uma sogra, O cortiço); Manuel Antônio de Almeida (Memórias de um sargento de milícias [publicado anonimamente (“um brasileiro”) em 1854]; Joaquim Manuel de Macedo (A moreninha [um dos livros mais lidos do século XX]); Graciliano Ramos (Memórias do Cárcere, Vidas secas) [quando foi prefeito de Palmeira dos Índios, Gracilano Ramos escreveu em relatório: “No cemitério enterrei 180 mil réis”]; Rachel de Queiroz (O quinze) [primeiro romance da autora, que teve duas versões, mas só a segunda foi publicada quando a autora tinha 17 anos]; José Lins do Rego (Menino do engenho); Jorge Amado (Capitães de areia); Érico Veríssimo (O tempo e o vento); Clarice Lispector (A hora da estrela); Mário de Andrade; Oswald de Andrade.

PARA LER COMO UM ESCRITOR (Francine Prose)

LIVROS BRASILEIROS PARA LER IMEDIATAMENTE (Italo Moriconi) (1) José de Alencar (Iracema); (2) Manuel Antônio de Almeida (Memórias de um sargento de milícia); (3) Jorge Amado (Tenda dos milagres); (4) Mário de Andrade (Macunaíma); (5) Aluísio de Azevedo (O cortiço); (6) Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil); (7) Antonio Callado (Reflexos do baile); (8) Carlos Heitor Cony (Quase memória); (9) Euclides da Cunha (Os sertões); (10) Carlos Drummond de Andrade (Prosa completa); (11) Lygia Fagundes Telles (As meninas); (12) Rubem Fonseca (A coleira do Cão/A grande arte); (13) João Guimarães Rosa (Grande sertão: Veredas); (14) Hilda Hilst (Ficções); (15) Lima Barreto (Triste fim de Policarpo Quaresma); (16) José Lins do Rego (Fogo morto); (17) Clarice Lispector (A paixão segundo G. H./Laços de família); (18) Machado de Assis (50 Contos/Dom Casmurro/Memorial de Aires); (19) Pedro Nava (Baú de ossos); (20) Nélida Pinõn (Fundador); (21) Raul Pompéia (O ateneu); (22) Rachel de Queiroz (Memorial de Maria Moura); (23) Graciliano Ramos (Memórias do cárcere/São Bernardo); (24) Darcy Ribeiro (Maíra); (25) João Ubaldo Ribeiro (Viva o povo brasileiro); (26) Nelson Rodrigues (Teatro completo); (27) Fernando Sabino (O encontro marcado); (28) Moacyr Scliar (A mulher que escreveu a Bíblia); (29) Dalton Trevisan (O vampiro de Curitiba); (30) Érico Veríssimo (O tempo e o vento)

OS 5 PILARES DA LITERATURA MUNDIAL (Martin Bodmer)

(1) A Bíblia; (2) Homero; (3) Dante; (4) Shakespeare; (5) Goethe

OS 10 PILARES DA “PONTE DO ESPÍRITO” QUE TRANSPÕE O ATOLEIRO DA HISTÓRIA HUMANA (Jung)

(1) Heráclito; (2) O épico Gilgamesh; (3) O I Ching; (4) Os Upanishads; (5) O Tao-Te-Ching (Lao Tzu); (6) O Evangelho de São João; (7) As Cartas de São Paulo; (8) Meister Eckart; (9) Dante; (10) O Fausto (Goethe)

REFERÊNCIAS BÁSICAS

(1) SUTHERLAND, John. Uma breve história da literatura. Porto Alegre: LP&M, 2017.

(2) CANTON, James (org.). O livro da literatura. SP: Globo, 2016.

(3a) REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média.

       São Paulo: Paulus, 1990.

(3b) HOMER. The Iliad; The odyssey. Chicago: The University of Chicago, 1952

(3c) HESÍODO. Teogonia; Trabalhos e dias. SP: Martin Claret, 2010.

(3d) BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega (vol.1, 2 e 3). Petrópolis: Vozes, 2015.

(3e) JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. SP: Martins Fontes, 2013.

(4a) BRANDÃO, Junito de Souza.  Teatro grego: tragédia e comédia. Petrópolis: Vozes, 1996.

(4b) BRANDÃO, Junito de Souza. Teatro grego: origem e evolução. SP: ARS Poética. 1992.

(4c) VERNANT, Jean-Pierre; VIDAL-NAQUET, Pierre. Mito e tragédia na Grécia Antiga. SP:

        Perspectiva, 2014.

(4d) AESCHYLUS. The Plays. Chicago: The University of Chicago, 1952.

(4e) SOPHOCLES. The Plays. Chicago: The University of Chicago, 1952.

(4f) EURIPIDES. The Plays. Chicago: The University of Chicago, 1952.

(5a) PLATO. The dialogues; The seventh letter. Chicago: The University of Chicago, 1952.

(5b) ARISTOTLE. The works. v.1. e v.2. Chicago: The University of Chicago, 1952.

(6a) LUCRETIUS. On the nature of things. Chicago: The University of Chicago, 1952.

(6b) EPICTETUS. Discourses. Chicago: The University of Chicago, 1952.

(6c) MARCUS AURELIUS. Meditations. Chicago: The University of Chicago, 1952.

(7) VRETTOS, Theodore. Alexandria: city of the western mind. New York: The Free Press, 2001.

(8a) McDONALD, L. M. A origem da Bíblia: um guia para os perplexos. SP: Paulus, 2013.

(8b) Bíblia de Jerusalém. SP: Paulus, 2015.

(9) PLOTINUS. The six enneads. Chicago: The University of Chicago, 1952.

(10) DURANT, Will. Os grandes pensadores. SP: Companhia Editora Nacional, 1969.

(11) HUTCHINS, Robert M. The great conversation: The substance of a liberal education. The

       University of Chicago, 1952.

(12) PROSE, Francine. Para ler como um escritor: um guia para quem gosta de livros e para quem quer escrevê-los. RJ: Zahar, 2008.

(13) MORIN, Edgar. Meus filósofos. Porto Alegre: Meridional. 2013.

(14) The School of Life. Grandes Pensadores. RJ: Sextante. 2018.

(15) NEWMAN, Sandra. História da literatura ocidental sem as partes chatas. SP: Cultrix. 2014.

(16) FOSTER, Thomas C. Para ler literatura como um professor. SP: Lua de Papel. 2010.

(17) FOSTER, Thomas C. Para ler literatura como um especialista. SP: Lua de Papel. 2011.

(18) Fadiman, Anne. Ex-libris: confissões de uma leitora comum. RJ: Zahar. 2002.

(19) MUSEU LASAR SEGALL. Não faço nada sem alegria: a biblioteca indisciplinada de Guita e

       José Mindlin. SP: IPHAN, 1999.

(20) ECO, Umberto. A memória vegetal e outros escritos de bibliofilia. RJ: Record, 2010

(21) MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. SP: Companhia das Letras, 1997.

(22) ANTUNES, Cristina. Memórias de uma guardadora de livros. SP: Imprensa Oficial do

       Estado – Florianópolis: Escritório do Livro, 2004.

(23) MINDLIN, José. No mundo dos livros. RJ: Agir, 2009.

BIBLIOGRAFIA ADICIONAL RELACIONADA AO ARTIGO

(a) Uma vida entre livros (José Mindlin); (b) O aparecimento do livro (Lucien Febvre); (c) O segredo das coisas perdidas (Sheridan Hay); (d) Livro: uma história viva (Martyn Lyons); (e) A construção do livro (Emanuel Araújo); (f) Bibliotecas do mundo antigo (Lionel Casson); (g) Bibliomania (Marisa Midori e Lincoln Secco); (h) A fascinante história do livro (José Teixeira de Oliveira); Fantasmas na biblioteca (Jacques Bonnet); (i) The anatomy of bibliomania (Holbrook Jackson); (j) Não contem com o fim do livro (Humberto Eco); (k) História da leitura (Steven Roger Fischer); (l) A aventura do livro (Roger Chartier); (m) A paixão pelos livros (Julio Silveira e Martha Ribas)

Clique aqui para baixar o artigo

ABSOLON MACEDO – Engenheiro, Especialista e Mestre em Administração, com Extensão em Gestão pela University of Waterloo/Canadá; Pós-graduações em Psicologia Geral e Analítica das Organizações, em Filosofia Contemporânea e em Sociologia do Trabalho e da Saúde Mental; Formação em Psicologia do Comportamento Social no CAPT-OKA/EUA, com Treinamento nos Institutos Junguianos de New York, Washington, Texas, Florida e Cleveland/EUA; Qualificação e Certificação para aplicação do MBTI – Tipos Psicológicos (Steps 1, 2 e 3) e do PMAI (Estrutura Arquetípica) pelo CAPT/EUA, e do EQ-2.0/EQ – 360 (Inteligência Emocional) pelo MHS/EUA; Consultor e Professor de Pós-Graduação de Filosofia do Comportamento Humano e de Gestão, Liderança e Comportamento Organizacional.