A Polaridade Esquerda-Direita encobre a Polaridade Comunismo-Nazi-Fascismo e paralisa a dialética dos opostos
Artigo dedicado a Mario Vargas Llosa, o grande humanista da América Latina
O comunismo assassinou milhões de pessoas baseado na eliminação da oposição pela luta de classes para o bem comum e o nazi-fascismo também assassinou milhões baseado na eliminação da oposição em nome do patriotismo. Ambos continuam ativos e em polaridade hoje, dentro da democracia, apesar de serem seus maiores inimigos. Ambos mantêm o ódio ao outro e impedem a dialética dos opostos inerente à maturidade e à Democracia Socialista.
Como é possível que os dois partidos que mais assassinaram oponentes na história, continuem atuando politicamente dentro da Democracia ainda que o Nazi-fascismo seja hoje proibido no Brasil e o Comunismo seja permitido e tenha até candidato para a vice-presidência da República?
Uma resposta possível é que o Nazi-fascismo foi derrotado na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o Comunismo venceu na China e continua como a forma oficial de governo. No entanto, vemos que o Nazi-fascismo não desapareceu e continua emergente de tempos em tempos e de forma crescente na Alemanha, apesar de proibido. Isso nos leva a pensar que as duas ideologias estão enraizadas num denominador comum que as transcende.
A melhor forma que vejo para explicar o Comunismo e o Nazi-fascismo sobreviverem ardilosamente aos próprios regimes democráticos que buscam destruir com sua unilateralidade, é a polaridade esquerda-direita que os encobre para que continuem ativos e polarizados.
Assim, a melhor forma que o Comunismo e o Nazismo encontraram para sobreviver foi cultivar a polaridade esquerda-direita, a polarização, o ódio e a unilateralidade para explicar as transformações sociais. Essa é também a melhor forma de explicarmos porque pessoas de grande escolaridade continuam mantendo esse erro tão primário e fascinando a juventude idealista com o ódio ao outro. O resultado dessa polarização ideológica é a estagnação patológica das sociedades latino-americanas que enriquecem os caciques vampiros dos governantes demagógicos e populistas para se perpetuarem no poder à custa da miséria e da ignorância.
Proponho vermos a origem das polaridades comunismo-nazi-fascismo e esquerda-direita na história social e, para tal, conceituei a teoria arquetípica da história. O arquétipo conceituado como o eidos ou a ideia por Platão e desenvolvido por Jung é o conceito psicológico do instinto e o conceito social para explicar qualquer padrão de comportamento adotado por toda a humanidade. Quatro principais arquétipos se sucederam na história da humanidade que hoje conta por volta de 200 mil anos.
O primeiro é o Arquétipo Matriarcal que é o arquétipo da sensualidade e do desejo, que não é exclusivo da mãe e do feminino, pois existe no homem e na mulher. Ele coordenou a vida social da pré-história, que durou aproximadamente 160 mil anos, quando fomos povos nômades em busca de comida e sobrevivência. Com ele povoamos o Planeta. Por ele, em nossa imaturidade, queremos um governo como colo e qualquer frustração é convertida na agressividade da passeata de protesto e quebra-quebra.
Por volta de 10 a 20 mil anos atrás, aprendemos a plantar e a domesticar animais. Foi a revolução agropastoril. Com ela pudemos nos assentar e construir vilas, cidades, nações baseados na organização da família tradicional, da propriedade privada, do capitalismo, do estatismo, da herança, das classes sociais e do Estado (Engels, 1884). Foi o início da civilização. Sua grande conquista foi o desenvolvimento da tecnologia da organização do Planeta em nações e a dominância da flora e da fauna. Sua grande Sombra foi a institucionalização das guerras de conquista. Por ele queremos um governo que arme toda a população e mate a oposição. Tanto o matriarcal quanto o patriarcal são unilaterais, imaturos e impedem a dialética do Socialismo Democrático.
O Arquétipo Patriarcal estabeleceu o poder unilateral que levou ao elitismo sócio-político e à luta armada. Por isso, diante do perigo do genocídio, há 2.500 anos, na Índia e há 2.000 anos no Oriente Médio, foi ativado o Arquétipo da Alteridade. Ele é o arquétipo do meio, que aceita os opostos na Democracia. Ele foi ativado na história pelos Mitos do Buda e do Cristo que pregaram a integração dos conflitos pela compreensão. Ele preconizou o Socialismo Democrático com a transformação política pela criatividade pacífica dos conflitos, evitando as guerras. Ele é o arquétipo da maturidade que aceita as frustrações e os opostos e vai além da ilusão adolescente que é fascinada pela unilateralidade e pela solução mágica dos conflitos.
O quarto arquétipo é o da Totalidade, que começou a levar a humanidade para a busca da integração planetária (globalização e internet).
A criatividade do Arquétipo da Alteridade levou Copérnico a descobrir o sistema heliocêntrico no século dezesseis e a dar início à revolução científica moderna.
Duzentos anos depois, criou-se o primeiro tear e começou a revolução industrial, que trouxe o desemprego e a miséria. O mesmo Arquétipo da Alteridade que trouxe o Iluminismo no século dezessete desencadeou a Revolução Socialista, e transformou a polaridade monarquia e servidão na polaridade burguesia-proletariado.
O Socialismo Democrático no final do século dezoito trouxe a República e a transformação socioeconômica pela dialética normal das classes sociais.
Símbolo da social-democracia.
O Arquétipo Patriarcal do poder de domínio unilateral de um polo sobre o outro resiste até hoje tenazmente à implantação da Alteridade. Uma parte do Socialismo cultivou a República e a Democracia, mas a parte patriarcal do Socialismo criou o Comunismo seguindo o Manifesto de Marx e Engels, de 1848, para implantar o Comunismo radicalmente pela guerra, baseado na luta de classes.
O Socialismo Democrático, a revolução científica, industrial e social continuaram se implantando no século dezenove enquanto que o Socialismo Comunista dominou pela força a Democracia na Revolução Russa de 1917. A ameaça Comunista levou a Alemanha a desenvolver o Socialismo Nacionalista que criou o Nazi-Fascismo. Apesar de inimigos, o Comunismo e o Nazismo se mantém no Socialismo pelo seu denominador comum que é o ódio ao diferente.
A derrota do Nazi-fascismo em 1945 permitiu o desenvolvimento do Socialismo Democrático capitalista e estatista, mas a vitória do Socialismo Comunista estatizado na Rússia e na China o manteve no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Como descreveu o saudoso Darcy Ribeiro, a América Latina, a África e boa parte da Ásia são povos novos. Por isso, eles necessitam passar pela adolescência no caminho do Socialismo Democrático. Nessa viagem, eles terão que lutar com o apego aos privilégios herdados da dominância matriarcal e patriarcal entrincheirados no idealismo, na corrupção, na ignorância e na demagogia unilateral da adolescência sócio-política que seduz mentirosamente o semelhante e demoniza o diferente.
Se pelo menos os brasileiros perceberem e evitarem a influência unilateral e polarizada do Nazi-fascismo da direita e do Comunismo da esquerda, que paralisa a Democracia Socialista ao votarem nesta eleição polarizada da sua adolescência, já estarão dando um grande passo em direção à aceitação das diferenças que caracterizam o Arquétipo da Alteridade, o Socialismo Democrático e a maturidade política imprescindíveis para propiciar o crescimento do Brasil.
Carlos Amadeu Botelho Byington – Médico psiquiatra e analista junguiano. Nascido em São Paulo, cresceu no Rio de Janeiro, onde se formou em Medicina. Especializou-se Especializou-se em Psiquiatria e Psicanálise, e, em 1965, graduou-se pelo Instituto Jung, em Zurique. Retornou ao Brasil e fundou, com outros colegas, a Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. Foi presidente, diretor de ensino e há muitos anos é supervisor e coordenador de seminários na SBPA. Além de ministrar inúmeros cursos e palestras no Brasil e no exterior, ensinando e divulgando a obra de Jung, Carlos Byington desenvolveu conceitos próprios, que originaram a Psicologia Simbólica Junguiana.