Pergunta simples e fácil de responder. Caso você seja bem resolvido psicologicamente a resposta tende a ser SIM. Isso não significa um culto à inveja, mas uma constatação clara de nossos limites e das fragilidades humanas.
Entretanto, a tendência é que a maioria de nós queiramos esconder nossas sombras. Essa tentativa de esconder o que somos por completo e aceitar somente nosso lado luminoso negando nossas fragilidades pode nos levar a, paradoxalmente, desenvolver mais ainda o nosso lado sombrio.
O grande psicólogo Carl G. Jung certa vez escreveu: “O que não enfrentamos em nós mesmos, encontraremos como destino”. Não é fácil assumir nossas debilidades, mas caso não façamos isso, ao menos para nós mesmos, estaremos deixando que um grande complexo invada nossa alma.
Todos devemos concordar que não é fácil realizar essa integração consciente entre o que somos de maneira aparente e visível, nossa persona (do grego, Máscara), e nossa parte obscura que pode vir à tona somente em momentos específicos de enfrentamento de profundas modificações – chamadas crises. A esse aspecto mais obscuro, a psicologia analítica chamou de sombra.
A inveja é uma sombra em nós. Mas ela existe e, como toda sombra, quando é negada pela consciência, cresce cada vez mais tornando-se patológica, doentia. A inveja é patológica quando, mesmo a sentindo, a escondemos até mesmo de nós e nos achamos incapazes de conquistar o bem desejado que outra pessoa possui. Nesse momento, a inveja cresce e traz consigo uma raiva que sentiremos da pessoa que possui aquilo que desejamos.
Quando nosso desejo, nascido da inveja, nos impulsiona à investigação e ação, tendo como modelo a pessoa invejada, há uma saída mental eficaz para a inveja que é a possibilidade de conquistar o bem desejado. Quando, por outro lado, minha inveja é transformada em impotência e raiva daquele que deveria ser meu modelo, eu tendo a aumentar a minha “sombra” e diminuir meu aspecto luminoso, tornando-me cada vez mais obscuro e egocêntrico.
Vou exemplificar. Antônio comprou um carro que eu desejo, a primeira sensação é uma inveja, afinal eu desejo que o ele possui. Num segundo momento eu posso:
Negar para mim e para os outros a inveja e assim me sentir menos “pecador”,
Perceber essa inveja em mim, transformá-la em admiração por Antônio (já que ele possui algo que ainda não tenho, mas que desejo) e tê-lo como modelo dessa conquista.
No primeiro caso, da negação da inveja, ela será colocada como sombra e crescerá sem a supervisão de minha consciência, o que é um grande risco. Provavelmente me fará “cometer outros pecados” como a falsidade com Antônio, a quem nessa altura já tenho raiva por ter conquistado aquilo que não me considero capaz de conquistar.
Na segunda hipótese, eu modifico de maneira consciente a inveja transformando-a em admiração. Quando coloco Antônio como modelo, ele passa a ser meu “professor”, mesmo sem que ele saiba. Será alguém que me ajudará a conquistar aquilo que quero, vira o modelo, assim como no quebra-cabeça, orientando meus passos para a conquista, mesmo que seja somente pela minha atenta observação. Minha mente entende que se ele conquistou eu também posso, basta analisar as técnicas empregadas.
Seja para um bem material ou imaterial (como relacionamento de amor ou amizade que admiramos, habilidade para cantar, falar em público, tocar um instrumento…) a estratégia é a mesma, perceber, assumir e transmutar a inveja em sua outra faceta: admiração.
Com o tempo, essa atitude de transmutação da inveja será automática e todos que você, por ventura, viesse a invejar você vai imediatamente admirar e se perguntar “como posso conseguir o que ele conseguiu?” e provavelmente até vai perguntar a ele. E você pode, quem sabe, se surpreender com a boa vontade desses Antônios em ajudar você nessa conquista.
Parafraseando o sábio Sócrates:
Conhece-te a ti mesmo, aceita-te a ti mesmo, melhora-te a ti mesmo.
Yang Mendes
Pós-graduando em Teoria da Psicologia Analítica pelo IJBA.
É um amante da filosofia, do empreendedorismo e da oratória. Adora uma boa leitura, principalmente dos clássicos. Tem ajudado milhares de pessoas na superação do medo de falar em público, na busca de uma vida com mais sentido e na obstinada luta por conquistar sonhos há mais de 12 anos. É professor, palestrante, empreendedor e podcaster.