O que podemos pensar sobre o saber? É apenas uma questão de raciocínio? A espécie humana possui uma qualidade única no mundo animal, o instinto da reflexão. E ai está a base de tudo. As manifestações da natureza seguem um caminho que se altera com a experiência do homem em sociedade. Como pode a natureza, em seu estado bruto, ser também a fonte de sabedoria do homem?
Um bebê acaba de nascer: Ali estão todos os segredos do universo e, a cada minuto que passa, parece que esse saber vai se perdendo. Nascemos, portanto, com um grande tesouro. O tempo, como uma cortina negra e bem hermética, afasta-nos desta sabedoria original, porém, se nós nos permitirmos trilhar o caminho de volta, poderemos de algum modo inexplicável, fazer contato com muitos desses segredos e enxergar além do limite.
Trilhar o caminho de volta é alcançar a sabedoria de poder ouvir a natureza em sua linguagem silenciosa, semelhante a uma flor quando exibe a sua beleza para corromper os insetos e atender a sua intenção de perpetuar a espécie e, assim, eternizar-se. Essa natureza se expressa, para nós, por meio de imagens tão enigmáticas quanto conhecidas.
Essas imagens nos conectam a algo desconhecido e fazem com que a vida tente a ser mais viva do que a vivência, para assim construirmos um saber que dispensa o intelecto e pede o encanto da imagem. A psique, semelhante à matemática, é invisível até que uma imagem, carregada de tonalidades afetivas, faça-a existir; e é quando tudo acontece.
Essas imagens carregadas de tonalidades afetivas são chamadas de símbolos. Os símbolos, muitas vezes, têm a condição de nos deixar mais sábios, independentemente de qualquer reflexão. Aliás, os símbolos não precisam do intelecto para se expressar, muito ao contrário, o intelecto pode se constituir em uma barreira. O encanto da imagem, aquela carregada de tonalidades afetivas, muitas vezes buscando desesperadamente uma existência física, pode nos fazer perceber o sentido da vida e nos conduzir harmoniosamente a um caminho sem nos arrastar violentamente por esse mesmo caminho, ou para outro destino.
A educação por meio das experiências, muitas vezes cheias de sofrimentos, abre caminho para um conhecimento que transcende seu próprio objetivo e cria a sabedoria de perceber o quanto as suas “realidades” mostram-se “irreais”. É quando as pedras se unem para formar um muro que separa a sua condição de não saber que nada sabe para uma outra condição de respeito aos mistérios. Respeitar os mistérios é a condição para alcançar a sabedoria e, paradoxalmente, poder romper com os nossos paradigmas.
Nossos ancestrais convencidos da sua sabedoria, dentre tantos absurdos, consideravam o negro uma espécie humana inferior. A mulher não tinha os mesmos direitos do homem e, além do mais, a terra não girava. Copérnico rompeu com o paradigma de sua época, mas não se sustentou. Surgiu então Galileu Gallilei: lutou contra a Igreja sem sair do lado dela, porém, até sua morte, no ano em que nasceu Newton, não conseguiu provar sua razão. Newton chegou finalmente a provar a teoria coperniciana. Situação semelhante presenciamos hoje em relação às pesquisas com as células tronco. Mais uma vez o desrespeito aos mistérios vindo dos religiosos inverte para eles, de forma prepotente, a condição de saber dos desígnios do criador. Para isso se apóiam num misto de ciências misturadas a dogmas e determinam quando a vida começa.
A imagem de Einstein chegou até a nossa cultura como um velho sábio dando a língua e, essa condição ridícula ou engraçada consegue unir a sabedoria ao outro aspecto dessa mesma realidade, a puerilidade. Einstein, por sua vez, ultrapassou a sua época e, então, mostra outra realidade ao romper com o maior paradigma que já enfrentamos: a do tempo e espaço relativos. O tempo nunca foi senhor de razão nenhuma.
Acredito que os homens do futuro perceberão o quanto é simples muitas das nossas questões enigmáticas de hoje, ao mesmo tempo que reconhecerão o quanto foi importante termos levantado essas dúvidas e contribuído com descobertas tão elementares para eles. Como estaríamos sem a curiosidade dos nossos ancestrais, sem as suas descobertas que hoje achamos simples e, sem aquelas dúvidas que agora não nos incomodam mais? Poderíamos lembrar de muitos homens que estiveram além de sua época e não foram entendidos. Hoje, teríamos esses homens como sábios, como exemplo eu cito C. G. Jung. Na humanidade, quase sempre se fazem justiças com injustiças e, também injustiça com justiças, essa é a nossa experiência do viver; estar sempre criando o bem quando faz o mal e o mal quando faz o bem.
A firmeza é a resistência do sábio. Convidado por sua natureza primitiva, ele, o sábio, com seu ato firme em decidir por um caminho que tangencia mais o espírito do que as bases instintivas de sua alma, sabe que nada sabe, como dizia o filósofo. E não se fala aqui de filosofia e sim de uma postura de vida coerente com a evolução, sem a tendência em reduzir os mistérios a conceitos. Tendenciosos existem, mas desmascarados.
Estamos evoluindo para alcançar a sabedoria de contatar com os mistérios que conhecíamos antes do nascimento da consciência? Nossa consciência, como afirma a psicologia de C.G.Jung, dividiu as nossas vidas em opostos irreconciliáveis, proporcionando-nos uma identificação com uma dessas polaridades em detrimento da outra. Ficamos cegos para muitas verdades que aguardavam nossa evolução para que pudéssemos enxergá-la. Essa evolução chega quando transcendemos os opostos irreconciliáveis, para então unificá-los como se espera ser pela ordem divina. Os modelos científicos não se sustentam diante da inquietude dos sábios. Sábios são aqueles acostumados a lidar com os contrários. Os paradoxos nos forçam a refletir. Deles vêm a nossa liberdade de pensar e enxergar a microscópica existência humana, diante da imensidão cósmica.