Vivemos em um mundo extrovertido, voltado para a fora, para o desempenho externo, no qual o parecer importa frequentemente mais que o ser. Desse modo, dedicamos, em geral, bastante atenção à nossa Persona – a qual se caracteriza como nossa função de relação psicológica com o meio externo; nosso sistema de relação entre a nossa consciência individual e a sociedade (JUNG, 1987, pp. 68 e 79); nossa imagem idealizada do Eu, além da pressão da sociedade (idem, p. 71). Em tal situação, é comum a identificação com a Persona, acreditar-se que se é a Persona e pouca ou nenhuma atenção ser destinada à comunicação de nossa consciência com o inconsciente. No entanto, é preciso haver atenção ao mundo interior, voltar a consciência também para ele, não apenas ao mundo exterior. A desadaptação ao mundo interior traz consequências graves, assim como a desadaptação ao mundo exterior (idem, p. 80).
Os arquétipos Animus e Anima são os condutores respectivamente da consciência feminina e da consciência masculina para o mundo interior. Jung denominou a contraparte feminina do homem de Anima (alma) e a masculina da mulher de Animus (alma masculina), considera-os arquétipos contrassexuais; modos simbólicos de percepção e comportamento. Embora partes constituintes de si mesmos, por serem inconscientes, a feminilidade no homem e a masculinidade na mulher em geral são mal desenvolvidas e por esse motivo, referidas por Jung como feminilidade inferior de um homem e masculinidade inferior de uma mulher – inferior por estar por trás da personalidade consciente de uma pessoa e por funcionar de modo imperfeito. Apesar disso, têm o papel de guia para o inconsciente, conduzindo a pessoa a uma compreensão mais profunda de seu mundo inconsciente (HOPCKE, 2012, p.105).
Cabe enfatizar que a Anima compensa a consciência masculina; o Animus compensa a consciência feminina (JUNG, 1987, p. 81). O inconsciente não tolera desvio do centro de gravidade na relação compensatória entre essas instâncias (idem, pp. 68-9). Requer que cada componente desses pares seja considerado no viver humano que pretenda a individuação, a realização do Si-mesmo[i].
Na relação entre o mundo interior e o exterior, é importante para o processo de individuação (realização do Si-mesmo) aprender a distinguir entre o que parecemos ser para nós mesmos e o que de fato estamos sendo para os outros (idem, p. 71). É preciso, portanto, atenção à Persona e seu desempenho no mundo exterior. Por outro lado, transtornos e inconvenientes que surgem do íntimo são sintomas de má adaptação às condições do mundo interior (idem, p.75). Assim, constata-se que o mundo está fora e dentro, ou seja, a realidade vem tanto do exterior como do interior (idem, p. 75). A conscientização do sistema de relações com o inconsciente é necessária para que possamos diferenciar nossa própria consciência e seu centro gestor, o ego, aquilo que percebemos como “minha vontade”, dos sistemas Anima ou Animus (idem, p. 71) – com frequência, antagônicos ao ego, à consciência. Fato é que:
(…) às vezes somos tomados por estados e emoções que despertam em nós impulsos, sentimentos, pensamentos e imagens que nos parecem totalmente estranhos. Frequentemente tais emoções são diametralmente opostas aos nossos pontos de vista ou intenções, de tal forma que dão a impressão de se tratar de manifestações de um ser com existência própria, diferentes de nós (E. JUNG, 2006, p.13).
No entanto, esses poderes antagônicos concorrem para a vida do indivíduo e significam a própria vida deste. A incompatibilidade das pretensões dos mundos interior e exterior gera a tensão de opostos indispensável para a autorregulação. Ou seja, tal incompatibilidade é o processo energético da própria vida. Além disso, relacionando-se entre si, tendem a unificar-se em um sentido mediador (C.G. JUNG, 1987, p. 72).
Para que tal relação aconteça de modo adequado é preciso que nos diferenciemos tanto de nossa Persona como de nossa Sombra[ii] (idem, p.74) – e dos arquétipos Animus ou Anima. Quando não diferenciados da consciência, Anima e Animus comportam-se como amantes ciumentos e exercem forte poder de ruptura sobre as relações da pessoa com o mundo externo (idem, p. 76). No entanto, é impossível que alguém se diferencie de algo que não conheça (idem, p.71). A diferenciação é ao mesmo tempo a essência da consciência e a condição sem a qual não há consciência (idem, p. 82). C.G.Jung ainda ressalta: para que possamos conhecer nosso mundo interior é preciso que consideremos com espírito crítico e com toda concentração o material psíquico de nossa vida particular e não apenas os acontecimentos exteriores.
Desse modo, C.G.Jung (1987, p. 79 e 85-87) propõe uma Técnica de Educar a Anima e o Animus, pela qual a pessoa investiga o que se oculta atrás da tendência anímica.
Para tanto, é requerida uma objetificação da Anima ou do Animus. De acordo com C.G.Jung (idem, p. 72), a própria autonomia do complexo psíquico em relação à gestão do ego, contribui para representação de um ser pessoal e invisível que vive em um mundo diferente do nosso, um mundo a nós inconsciente. Em face, por exemplo, dos impulsos de ruptura dirigidos pela Anima (como caprichos de humor no homem) poderá ser perguntado a ela: por que deseja essa ruptura? Em face, por exemplo, das desqualificações da Persona, propaladas pelo Animus (como pensamento destrutivo contínuo invadindo a consciência), pode-se perguntar a ele: por que me considera incompetente? Assim, pode-se de fato investigar o que há subjacente às opiniões expressas pelo Animus, como por exemplo, pressupostos inconscientes. Em face das opiniões irrefletidas do Animus, quando voltadas ao mundo exterior, C.G.Jung (1987, p. 84) sugere à mulher investigar-lhes a procedência até se deparar com as imagens originárias, do mesmo modo que sugere ao homem com relação aos caprichos e exigências da Anima. Emma Jung (2006, p. 37) ressalta a importância de que a mulher posicione-se e oponha suas convicções ao Animus (e ao homem) em igualdade espiritual, mesmo sob o risco de ser mal compreendida ou julgada erradamente – enfatiza que sem esse ato de insurreição a mulher nunca se libertará do poder de seu Animus tirano.
Deste modo, por meio de perguntas diretas, de cunho pessoal, a personalidade da alma, nossa personalidade interior, Anima ou Animus, pode ser reconhecida. Isso torna possível estabelecer uma relação com ela. Conforme nos lembra C.G. Jung (1987, p. 77), como a psique não é uma unidade e sim uma pluralidade contraditória de complexos, não é muito difícil chegar à dissociação necessária para discutir com a Anima ou o Animus. Acrescento que um ego não identificado nem com a personalidade exterior (Persona), nem com a interior (Animus ou Anima) pode ser um excelente mediador nessa reflexão.
C.G. Jung (1987, p. 77) comenta que costumamos nos identificar com os pensamentos que nos assaltam – isso ocorre porque nos consideramos seus autores. No entanto, considera os pensamentos como fatos objetivos, como os sonhos. Ou seja, sua origem independe do arbítrio do ego. Lembro que, ao contrário, no mundo grego clássico, não ocorreria a alguém dizer: tenho (engendro, crio) um pensamento, mas algo como: ocorre a mim um pensamento, ou: recebo um pensamento, vindo dos deuses, das musas. A consciência humana apenas recebe os pensamentos. Desse modo, a consciência nem é “culpada” pelos mesmos nem a ela são devidos méritos porque esses ocorrem. Essa percepção nos libera de preconceitos contra os conteúdos que emergem à consciência e, desse modo, podemos permitir melhor e mais livre expressão ao inconsciente. Assim, o inconsciente desfruta da “oportunidade de manifestar-se mediante uma atividade psíquica perceptível” (idem, p. 78), como o emergir do que comumente chamamos pensamento. Do contrário, a atitude repressiva da consciência leva a sintomas quase sempre de caráter emocional (ibidem).
Sabemos, conforme proposto por Jung (idem, p. 64), que a base da economia psíquica é o valor. Ou seja, a quantidade de afeto (=emoção) mobilizada ou alocada por um evento ou fato ou situação. Jung ressalta a importância de aproveitarmos situações de intenso afeto para conhecer melhor nossa própria personalidade interior. É em momentos de afeto intenso, avassalador, que emergem à superfície (à consciência) fragmentos de conteúdos do inconsciente sob a forma de pensamentos ou imagens. Jung (idem, p. 78) sugere que aproveitemos esses momentos para que aspectos inconscientes tenham ocasião de se exprimir. Aconselha que se cultive a arte de falar consigo mesmo em uma situação de afeto, como se o próprio afeto falasse. Propõe que enquanto o afeto se manifesta, a crítica deve ser evitada. Logo que o afeto tenha exposto “seu caso”, “será conscienciosamente criticado, como se o interlocutor fosse um indivíduo real, diretamente relacionado conosco”. Jung continua enfatizando que devemos prosseguir até um final satisfatório da discussão – o que perceberemos subjetivamente ter acontecido, cuidando contra o autoengano. Insiste na importância de rigorosa honestidade para consigo mesmo nesse exercício. Acrescenta ainda a importância de se evitar a antecipação apressada do que o outro lado, a personalidade interior, quer expressar. Animus e Anima aparecem também em sonhos e fantasias, situações em que devemos aprender a reconhecê-los e a manter com as imagens do inconsciente que os representam, conversas e discussões – o que será sempre importante no caminho para a diferenciação (E. JUNG, 2006, p. 40). Nos sonhos o Animus quando indiferenciado em geral se manifesta por uma pluralidade indefinida de homens. A Anima comumente aparece em forma de três personagens (idem, p. 58), ou seres femininos não humanos.
Jung (idem, p. 79), no entanto, igualmente enfatiza: “não recomendo a ninguém a técnica acima exposta, como algo de necessário e útil, se a pessoa não for premida pela necessidade” (destaque meu). Ou seja, não se trata de diletantismo. Recorrer a esse exercício de imaginação ativa só é indicado caso a pessoa de fato esteja se havendo com situações diretamente associadas a seu Animus ou Anima (ou a outro Arquétipo), a qual esteja difícil de lidar, acessar ou compreender de outro modo. Jung enfatiza que tal exercício consiste em “uma humilhação íntima” e requer uma entrega que pode nos devolver às angústias da infância, dado o conteúdo que pode ser acessado, dada à des-ilusão da Persona idealizada em seu confronto com sua compensação, com a personalidade interior, o Animus ou a Anima (ou outro Arquétipo, por meio de um complexo constelado). Jung enfatiza ser “penoso situar-se entre um mundo diurno de ideais ameaçados, valores em declínio e um mundo noturno de fantasias aparentemente sem sentido”, situação em que se coloca o ego que observa e faz a mediação de tal embate. Emma Jung (2006, p. 94) enfatiza também que “para estabelecer uma relação com o inconsciente, é imprescindível que a personalidade esteja suficientemente determinada e firme” para que não possa ser dominada e apagada pelo inconsciente, perigo associado ao contato com este, e para que possa ser mantida a continuidade da relação. E continua: “através do confronto entre a personalidade do eu e as figura do inconsciente e da discussão com elas, estas por um lado diferenciam-se do eu, e por outro estabelecem uma relação com ele, ocorrendo uma reação para os dois lados” (idem, p. 95).
Por outro lado, enquanto a personalidade interior permanecer inconsciente será projetada dado que tudo que é inconsciente é projetado no mundo externo (JUNG, 1987, p. 73). C.G.Jung destaca que:
As coisas do mundo interior influenciam-nos subjetiva e poderosamente, por serem inconscientes. Assim, pois, quem quiser incrementar o progresso em seu próprio ambiente cultural (pois toda cultura começa com o indivíduo), deverá tentar objetivar as atuações da anima [ou do animus, caso se trate de uma consciência feminina – acréscimo meu], cujos conteúdos subjazem a essas atuações. Nesse sentido, o homem [a mulher] se adaptará e ao mesmo tempo se protegerá contra o invisível. Toda adaptação consiste de concessões aos dois mundos. Da consideração das exigências do mundo interno e do mundo externo, ou melhor, do conflito entre ambos, procederá o possível e o necessário. (JUNG, 1987, p. 81).
Jung (1987, p. 81) continua comentando que o ocidente nem mesmo concebeu um conceito que abranja o problema em questão e se refira à união dos contrários no caminho do meio, como o faz o conceito chinês do Tao. Considera ser esta realidade ao mesmo tempo tanto a mais individual como a mais universal aos humanos. Considera-a “o cumprimento legítimo do significado da existência humana” (idem). Ou seja, em encontrar o caminho do meio reside o significado da existência humana.
Emma Jung (2006, p. 83) considera com relação à oposição entre o mundo externo e interno, entre a consciência e o inconsciente que fazer a ponte entre os dois parece ser a tarefa especial da nossa época e da psicoterapia atual (idem, p. 99).
Para auxiliar o exercício acima proposto, de educação (conscientização) da Anima e do Animus, a seguir ressalto algumas de suas características:
O masculino é caracterizado pelos aspectos de força, ato, verbo, sentido e todos esses exigem consciência. O mundo feminino é mais difuso, menos luminoso. A mulher (e a Anima no homem) são determinadas preponderantemente pelo Eros, o princípio da ligação, da relação; o homem (e o Animus na mulher) em geral estão mais associados ao princípio do Logos, o qual diferencia e ordena, sendo associado à razão. A Anima é a ligação do homem à fonte da vida, que está no inconsciente (E. JUNG, 2006, p. 71, 79).
Assim, para a consciência da mulher é mais importante, mais interessante, o universo das relações pessoais, percebendo nuances que costumam escapar à percepção dos homens. Ficam em segundo plano e pertencem aos domínios do Animus, os fatos objetivos e suas inter-relações, o espírito utilitário e aplicado (C.G. JUNG, 1987, p. 82). O Animus é uma espécie de sedimento de todas as experiências ancestrais da mulher em relação ao homem. Quando [mais] consciente, o Animus é um ser criativo e engendrador de modo próprio, expressa a palavra que gera (idem, p. 84). Já o Animus inconsciente se expressa de modo condenatório, como uma consciência moral coletiva conservadora ou ao contrário, um reformador, irrefletido (ibidem), atacando, por exemplo, o desempenho da Persona, ou de outras pessoas. O Animus inconsciente expressa opiniões com pressupostos inconscientes, opiniões irrefletidas – doxa para os gregos clássicos em contraposição ao conhecimento decorrente de reflexão, episteme. Assim, uma mulher tomada pelo Animus se expressará de modo dogmático e considerará que sempre tem razão. Quando inconsciente, o Animus também se comportará como um amante ciumento, pronto para substituir um homem de carne e osso por uma opinião sobre ele (doxa). Será em geral, uma opinião coletiva que negligencia o indivíduo; um pensamento em lugar onde seria mais adaptativo empregar o sentimento ou a intuição (E. JUNG, 2006). Como função associativa de ideias, no que se refere a situações exteriores, o Animus não deve intervir. Deve ser dirigido para dentro, a fim de associar os conteúdos do Inconsciente (C.G. JUNG, 1987, p. 84). O Animus inconsciente é incômodo e destrutivo. O Animus [mais] consciente ajuda a mulher a criar, a realizar tarefas e projetos; é prestativo, discriminativo, promove a abstração. Pela dança, música, passatempos a mulher pode acessar a expressão de seu espírito, de seu Animus. Sua função quando consciente é a compreensão e identificação do sentido de conteúdos que vêm do inconsciente (E. JUNG, 2006, pp. 16, 22, 27, 33, 39, 49). Ou a mulher se torna consciente e espiritualmente ativa ou o Animus se torna autônomo, negativo, destrutivo de si mesma e de suas relações com outras pessoas (idem, p. 22). Por outro lado, guiar e acompanhar as mudanças e transformações psíquicas, guiar e proteger a vida interior caracteriza-se como uma importante função do Animus superior, suprapessoal (isto é, além dos aspectos pessoais da experiência de vida de uma dada mulher) (idem, p. 45, 49).
A Anima, por sua vez, adquire suas características mais pessoais por meio da experiência do homem com a mãe e as mulheres que o mobilizam emocionalmente. A Anima se expressa, quando inconsciente, por meio de predições e projeções afetivas e se interpõe entre os parceiros, como nas relações entre marido e mulher. A Anima quando em oposição ao mundo exterior manifesta-se por uma exclusividade apaixonada, impedindo a adequada relação do homem com o mundo exterior e sua dedicação à sociedade (idem, p. 85). Ao contrário, quando age como guardiã do mundo interior e condutora da consciência a esse mundo, dá ao homem acesso aos sentimentos. Ou seja, “os movimentos emocionais que ocorrem no inconsciente são transmitidos à consciência pela feminilidade do homem, pela anima, que as percebe” (E. JUNG, 2006, p. 65). A mulher em geral está mais aberta ao inconsciente que o homem, sendo a receptividade uma atitude feminina, o que exige abertura e vazio – para C.G. Jung, este é o maior segredo do feminino (E. JUNG, 2006, p.67). Emma Jung (idem, p. 68) prossegue: “A Anima, sendo o feminino no homem, possui justamente essa receptividade e falta de preconceito em relação ao irracional, e por essa razão ela é qualificada de mensageira entre o inconsciente e a consciência”.
Tomados pelo Animus ou pela Anima, mulher e homem perdem a Persona que lhes é socialmente adequada, ou seja, que lhes permite a adaptação ao mundo externo. Isso ocorre por falta de suficiente conhecimento do mundo interior que então ganha autonomia em relação à consciência e se opõe ao mundo exterior (C.G. JUNG, 1987, p.85). “A [comumente referida] salvação consiste no reconhecimento e integração [à consciência] destes elementos inconscientes da alma” (E. JUNG, 2006, p. 69).
Outra consequência funesta da inconsciência dessas personalidades interiores é que o Animus inconsciente sempre provoca a Anima e vice-versa dificultando relacionamentos homem-mulher e impedindo o prosseguimento de uma conversa em que isso ocorra (C.G. JUNG, 1987, p. 84).
Ainda sobre Animus e Anima, C.G.Jung (idem, p. 86) ressalta: “Sua autonomia e falta de desenvolvimento usurpa, ou melhor, retém o pleno desabrochar de uma personalidade. (…) conscientizando-os, podemos convertê-los em pontes que nos conduzem ao inconsciente”. Não podem, no entanto, ser integrados à consciência enquanto seus conteúdos permanecerem desconhecidos. Nessa condição, continuarão como personalidades relativamente independentes enquanto não os utilizarmos intencionalmente como simples funções – o que requer que a consciência se familiarize o suficiente como processos inconscientes neles refletidos (idem, p. 86).
Cabe acrescentar, entretanto, que ambos os arquétipos, Animus e Anima podem ser integrados apenas em seu aspecto pessoal. Como arquétipos respectivamente do masculino e do feminino possuem natureza suprapessoal e por isso não podem ser totalmente integrados (E. JUNG, 2006, p. 98).
Cabe destacar que a intensa polarização binária aparentemente atribuída aos gêneros é característica cultural do tempo e espaço em que Emma e C.G. Jung viveram. Com base em teorias desenvolvidas por ambos, a presente reflexão buscou enfatizar a existência e o modo de ação dos princípios feminino e masculino, talvez melhor expressos pela cultura chinesa como forças yin e yang. A pluralidade de expressões sexuais e identidades de gênero hoje bastante mais reconhecidas e aceitas, abarcam complexidades de interações entre a consciência e aspectos inconscientes da psique que eventualmente ultrapassam a interação de compensação entre a Persona e os arquétipos Anima e Animus, interações essas, mediadas ou mediáveis pelo Ego em alguma extensão. Tal questão, aqui não abordada, merece cuidadosa reflexão em trabalhos futuros. Espero que ainda assim, o presente texto tenha enfatizado o suficiente a importância da ampliação de consciência, no sentido de os homens melhor compreenderem suas Animas e assim se tornarem mais aptos a respeitarem e se relacionarem com o feminino em si mesmos, nas mulheres e na Natureza. Do mesmo modo, as mulheres melhor compreendendo seus Animus, mais aptas se tornem a se relacionarem com o masculino em si mesmas, no homem e nas criações culturais. E que a comunicação melhor se faça entre todos.
Bibliografia
HOPCKE, Robert.H. Guia para a Obra Completa de C.G. Jung. 3ª Ed. Petrópolis: Vozes. 2012, 219 p.
JUNG, Carl.G. O Eu e o Inconsciente. 6ª Ed. Petrópolis: Vozes. 1987, 166 p.
JUNG, Emma Animus e Anima. (5ª reimpr. da 1ª Ed. de 1991) São Paulo: Cultrix. 2006, 112 p.
Autora
Silvia Maria Guerra Molina – analista em formação pelo IJEP- silvia.maria@gmail.com; (19)99151-0909 (Piracicaba, SP)
Dedico esse texto a Carol, Maristela, Gabriel e Natália.
[i] Si-mesmo, conforme Jung (1997, p. 68): é a síntese do nosso sistema vivo; contém o sedimento e a soma de toda a vida vivida; é também o ponto de partida de toda a vida futura – cujo pressentimento se encontra no sentimento subjetivo e no aspecto histórico.
[ii] Para a Psicologia Analítica, nossa Sombra contém aspectos da psique reprimidos por incompatíveis com a Persona ideal, esquecidos ou que não alcançaram energia suficiente para emergirem à consciência.