Por Carlos São Paulo
Natal… Tempo de abraços, de presenças, de saudades. No Natal, percebemos que a proximidade das telas nunca substituirá o calor do abraço e o toque genuíno entre o eu e o outro. Rostos na tela, mas o calor, ah, o calor se esvai na frieza das imagens virtuais.
Perdas e ganhos, a vida em seu ciclo eterno. Uns se vão, outros chegam, e a roda gira, implacável. A cada instante, uma lembrança querida que habita para sempre nossos corações.
O mundo é um caldeirão de informações: vozes que gritam, sussurram, seduzem, manipulam. E nós, navegantes errantes, buscamos verdades, um fio de ouro que nos guie pela escuridão. Cristo, como símbolo, ensina o homem a amar sua natureza humana, amando o outro tanto quanto a si mesmo. É fácil quando o outro está em sintonia com nossas ideias e imaginações, mas é um verdadeiro salto evolutivo reconhecer e acolher o diferente, sem criar “tribos”.
O menino-Deus nasce em nossa imaginação, convidando-nos a resgatar o encantamento da infância e a reconstruir pontes entre a fantasia e a realidade. Nesse nascimento simbólico, encontramos o desafio de amar o próximo, acolher as diferenças e renovar o compromisso com uma vida mais consciente e compassiva.
O menino-Deus também nos chama a revisitar a infância, onde deixamos para trás o encantamento perdido, desfeito pelo pensamento linear e literal que apagou nossas fantasias tão necessárias. É um convite a retornarmos ao papel dos heróis que desbravavam mundos ocultos em nossa imaginação.
Como em um sonho, a vida se revela em camadas, em símbolos, em arquétipos. O inconsciente, esse mar sem fim, nos convida a navegar por suas águas, a desvendar os segredos que jazem adornados em nosso interior.
Em nossos caminhos, encontramos as pedras, que, por mais duras e pesada que sejam, vão nos exercitando e se tornando mais fáceis de empurrar. É levando essas pedras ao topo de uma montanha que conseguimos atingir níveis mais altos de consciência e assim enxergar melhor nossa maneira de fazer a diferença entre o subjetivo e o que consideramos objetivo. Reclamamos do que está lá fora, sem a consciência de que estamos enxergando o nosso próprio mundo interior.
O mundo exterior, um espelho da alma. Nossos medos, nossas angústias, refletidos nas paisagens que nos cercam. E no inconsciente, a dança dos opostos, a união dos paradoxos, a vida e a morte entrelaçadas em um abraço eterno. O Instituto Junguiano da Bahia, um farol a iluminar o caminho. Semeamos conhecimento, cultivamos a sabedoria, acolhemos aqueles que buscam desvendar os labirintos da psique desde o ano de 1989.
Natal, tempo de renascimento. Celebramos a vida, a saudade e o presente do agora. Que o novo ano nos traga luz, esperança e amor. Feliz Natal!
Carlos São Paulo – Médico e psicoterapeuta junguiano. É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia. Coordena os cursos de Pós-graduação em Psicoterapia Analítica, Psicossomática e Teoria Junguiana. carlos@ijba.com.br