Com a Operação Lava Jato muito se viu sobre a corrupção em nosso país e o envolvimento de grandes empresários e a quase totalidade dos políticos de relevância no país.
Mas, como será que uma pessoa se corrompe?
Como evitar que a corrupção tome conta de nosso EU fazendo-nos ser aquilo que há um tempo condenávamos?
O termo corrompido significa rompido conjuntamente, por dentro (em nossos valores éticos) e por fora (nos valores morais da sociedade).
Sempre que os valores morais da sociedade estão em cheque e em crise (como o momento em que vivemos) e que Ética e Virtude são temas raros de se discutir, aprender e aplicar, temos uma ferida aberta que permite o desenvolvimento da corrupção em nós.
Devemos considerar que há em nossa psique uma sombra (local onde todas nossas carências e fragilidades permanecem). Contudo temos, em contrapartida, valores morais e éticos que nos norteiam (ou deveriam nos nortear) frente às escolhas cruciais da vida.
A corrupção surge exatamente quando os nossos valores fragilizados, estragados (sinônimo de “corrompidos”) conectam-se a valores distorcidos e invertidos presentes em algum contexto social.
Quando observamos qualquer ato escabroso e pensamos que nós nunca faríamos igual, podemos estar tentando esconder de nós mesmos nossa parte mais inferior.
É comum observar em nós mesmos somente o nosso lado mais puro e belo, mas esquecendo-nos que temos dentro de nós uma sombra, um local onde guardamos nosso eu mais obscuro e execrável.
Penso que a energia psíquica neste momento de tantas revelações sobre a corrupção é mais direcionada para fora do que dentro, ou seja, ficamos com raiva e com sentimento de indignação frente a todo o absurdo que ocorreu. Mas penso que não devemos perder a oportunidade de internalizar essa energia psíquica para nossa evolução.
Mais do que julgar ou condenar aqueles que se envolvem em atos de corrupção (energia psíquica no externo), devemos permitir que isso nos sirva de lição para que possamos ficar mais atentos a nós mesmos e mais cuidadosos com os caminhos que podem nos levar para longe de nossos valores mais nobres (energia psíquica no interno). O famoso “Orai e vigiai” nunca foi tão necessário.
Precisamos reconhecer que há uma sombra em nós e nos apoiar nos escândalos ocorridos para que nos alertemos frente ao que não queremos ser e o que não gostaríamos de fazer.
Há uma excelente passagem de Kalil Gibran, no clássico O Profeta, em que ele diz:
“Vós sois o caminho e os que caminham. E quando um de vós tropeça ele cai pelos que caminham atrás dele, alertando-os sobre a pedra traiçoeira”
Então, que esse tropeço de todos os indiciados e os já acusados na Lava Jato sirva para que nos alertemos também de nossa fragilidade enquanto humanos e que não neguemos nossa sombra, que a integremos para que sejamos mais plenos e melhores. Que nos aferremos aos nossos valores mais caros.
E que no final das contas, contemos também com uma ajuda adicional das forças superiores em nossos momentos de maior fraqueza. Afinal, como nos diz a oração mais conhecida do Ocidente:
“Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém”
Yang Mendes
Pós-graduando em Teoria da Psicologia Analítica pelo IJBA.
É um amante da filosofia, do empreendedorismo e da oratória. Adora uma boa leitura, principalmente dos clássicos. Tem ajudado milhares de pessoas na superação do medo de falar em público, na busca de uma vida com mais sentido e na obstinada luta por conquistar sonhos há mais de 12 anos. É professor, palestrante, empreendedor e podcaster.