A conscientização sobre o tipo psicológico, suas características e implicações, pode auxiliar o indivíduo a desenvolver uma maior aceitação dele mesmo e uma percepção mais acurada da rota adequada para o seu crescimento pessoal.
Em adição, quando percebemos que as pessoas se comportam de maneiras que são extensões naturais de seu tipo psicológico, passamos a compreender melhor e a valorizar mais o outro, pavimentando assim o caminho para o desenvolvimento interpessoal – construindo sobre as diferenças.
Tendo em mente os objetivos fundamentais da identificação do tipo psicológico, podemos vislumbrar o amplo escopo de sua aplicabilidade, abrangendo, entre outros: Relacionamentos; Carreiras; Educação; Espiritualidade; Aconselhamento; Psicoterapia; Coaching; Processos Organizacionais (liderança, desenvolvimento de equipes, comportamento organizacional em geral).
Neste artigo, focaremos principalmente três aspectos que usualmente apresentam dificuldade de entendimento por parte das pessoas relativos à dinâmica, balanceamento e desenvolvimento dos tipos psicológicos.
Antes, porém, de mergulharmos no tema central do texto, faremos uma breve passagem pelos princípios fundamentais da teoria contemporânea sobre tipos psicológicos.
As Preferências dos Tipos Psicológicos
A identificação do tipo psicológico caracteriza quatro preferências pessoais básicas. A intenção é apontar uma escolha habitual do indivíduo entre alternativas opostas (dicotomias), assumindo-se que este use ambos os polos de cada uma das quatro preferências, mas que responda primeiro ou mais frequentemente com as suas funções e atitudes preferenciais. Esse processo não se presta para avaliação de habilidades, estresse, inteligência, patologias psíquicas, emoções e maturidade.
Através da identificação do tipo psicológico a pessoa toma ciência das preferências de suas funções mentais relativas às formas de (1) Percepção dos estímulos externos que lhe chegam (Sensação ou Intuição – S ou N, funções mentais opostas) e (2) Julgamento para tomar decisões (Pensamento ou Sentimento – T ou F, funções mentais opostas) a partir desses estímulos.
A identificação do tipo psicológico também possibilita observar as atitudes preferenciais do indivíduo relativas a: (3) Direcionamento de energia vital (Extroversão ou Introversão – E ou I) e (4) Relacionamento com o mundo externo (Percepção ou Julgamento – P ou J).
Devemos ter cuidado para não confundirmos a denotação da terminologia adotada para as preferências dos tipos psicológicas com a conotação desses termos no senso comum: Extrovertido não significa “tagarela”, Introvertido não significa “tímido”, Sentimento não significa “sentimental”, Julgamento não significa “juízo de valor” e Percepção não significa “perspicaz”.
Outro pressuposto da tipologia de personalidade é que sempre uma das duas funções mentais (Percepção ou Julgamento) se apresentará na atitude extrovertida (E) e a outra na atitude introvertida (I) – independentemente de a pessoa ter como preferência de atitude de direcionamento de energia vital a Extroversão (E) ou a Introversão (I).
Dessa maneira, se a preferência de atitude para o mundo externo por parte do indivíduo for a Percepção (P), este terá uma função mental de Percepção (S ou N) necessariamente extrovertida e, consequentemente, terá uma função mental de Julgamento (F ou T) introvertida.
Enquanto a função mental extrovertida caracteriza-se por apresentar uma estrutura de referência externa, amplitude, ação, contemporaneidade, coletividade, objetividade e ser energizada na interação, a mesma função mental sendo introvertida caracteriza-se por apresentar uma estrutura de referência interna, profundidade, reflexão, atemporalidade, individualidade, subjetividade e ser energizada na solitude.
A Dinâmica dos Tipos Psicológicos
Abordando a dinâmica da tipologia como primeiro tópico principal deste artigo, salientamos que os 16 tipos psicológicos identificados são combinações de 8 letras (E, I, S, N, F, T, P, J) designando preferências individuais, as quais, quando observadas isoladamente, apresentam características comportamentais próprias que são moldadas quanto configuradas em conjunto.
Em outras palavras, um ISTJ não é simplesmente a “soma” das características dessas quatro letras (funções mentais e atitudes preferencias) consideradas per si, mas uma interação destas entre si. Fazendo uma analogia, é como se comparássemos o sabor de cada um dos ingredientes constituintes de um bolo (farinha de trigo, açúcar, fermento etc.) considerados individualmente com o sabor do bolo posteriormente ao seu preparo – o bolo tem outro sabor, mas não especificamente diferente daquele de seus ingredientes.
As quatro funções mentais (S, N, F, T) têm áreas específicas de especialização, sendo direcionadas para diferentes domínios de atividade. Se todas as funções mentais tivessem pesos iguais, a personalidade ficaria sob a égide de propósitos cruzados, carecendo de um direcionamento consistente.
Na teoria dos tipos psicológicos, uma das funções mentais é a função principal (função mais consciente e desenvolvida de todas), sendo sua oposta a função inferior (função menos consciente e diferenciada de todas); outra destas será a função auxiliar (função secundária que fornece equilíbrio para a principal), sendo sua oposta a função terciária (função menos consciente do que a principal e a auxiliar).
Assim, por exemplo, um tipo ENFP apresenta a Intuição (N) como função principal, o Sentimento (F) como função auxiliar, o Pensamento (T) como função terciária (oposta à auxiliar) e a Sensação (S) como função inferior (oposta à principal).
Nesse exemplo, a função principal Intuição (N) – uma função de Percepção – se apresenta na atitude Extrovertida (E) – note que a atitude para o mundo externo do ENFP é a Percepção (P). Essa função principal é equilibrada pela função auxiliar Sentimento (F) – uma função de Julgamento – que se apresenta nesse caso na atitude Introvertida (I). Observe ainda que esse tipo apresenta como atitude de direcionamento de energia vital a Extroversão (E).
Ressalta-se, por fim, que todas as funções mentais da pessoa são importantes, mas a secundária, a terciária e a inferior são subordinadas e servem aos objetivos da principal que mantém sob seu controle a maior parte da energia psíquica disponível.
O Balanceamento dos Tipos Psicológicos
Tendemos a pensar que balanceamento do tipo psicológico significa manter-se equilibrado no meio da escala entre duas preferências opostas. Na verdade, esse balanceamento refere-se ao grau em que a função principal e a função auxiliar estão operando em conjunto: a função de Percepção (S ou N) e a função de Julgamento (F ou T) comunicando-se entre si e fazendo com que se despenda um tempo adequado (mas não igual) em atitudes Extrovertidas (E) e atitudes Introvertidas (I).
Dito de outra forma, balanceamento em tipologia refere-se a não se vivenciar demasiadamente a Percepção (ser “muito P”) em detrimento do Julgamento – obtendo muitos dados com poucas decisões – ou, ao contrário, se exercitar exageradamente o Julgamento (ser “muito J”) em detrimento da Percepção – fechando questões muito rapidamente sem informações suficientes para decidir.
Portanto, o fluxo eficaz entre a obtenção de informações (P) e a tomada de decisões (J) é um objetivo a ser buscado de forma permanente pelo indivíduo. A regulação do grau que a pessoa se engaja no mundo interno ou externo, estimulando a função mental (S ou N e F ou T) de cada atitude (E ou I), é um ponto de alavancagem eficaz para o balanceamento do seu tipo psicológico.
O Desenvolvimento dos Tipos Psicológicos
Para introdução do terceiro tópico principal deste texto, esclarecemos que a teoria da tipologia de personalidade estabelece que nossas preferências são determinadas e imutáveis, mas o grau de uso dos elementos de todos os tipos psicológicos está continuamente em desenvolvimento. Sem fatores impeditivos maiores, a pessoa pode acessar e usar todas as funções mentais num nível superior e com maior facilidade aos 40 anos do que fazia aos 20, e melhor ainda aos 60 do que aos 40.
O desenvolvimento do tipo psicológico é um processo de busca permanente por maior controle sobre todas as funções mentais: saber quando e como usá-las da melhor forma. O sucesso em qualquer empreendimento da vida demanda que cada função mental seja usada em variados graus em diferentes momentos. Entretanto, não se deve buscar o desenvolvimento equitativo de todas as funções mentais desde que, por natureza, não as usamos da mesma forma. As pessoas se tornam mais eficazes quando desenvolvem seu estilo natural e aprendem a usar as suas funções mentais não-preferidas em situações apropriadas.
Em síntese, o objetivo maior nesse processo é desenvolver adequadamente uma função mental mais consciente dominante (função principal) e uma função mental menos consciente e compensatória de equilíbrio (função auxiliar). Em adição, deve-se adquirir certas habilidades necessárias pertinentes às funções mentais menos desenvolvidas (funções terciária e inferior) para uso consciente e objetivado destas em tarefas selecionadas ou por períodos limitados de tempo.
É da obrigação moral de cada um buscar sempre a melhor condição possível para alcançar a harmonia integral do seu ser. O indivíduo é o melhor instrumento de si mesmo, sendo o autoconhecimento a quintessência do modus operandi de refinamento desse instrumento. A identificação da dinâmica do tipo psicológico e a busca por seu balanceamento e desenvolvimento constituem fatores fundamentais no processo de busca pela plenitude pessoal.
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Absolon Macedo – Engenheiro, Especialista e Mestre em Administração, com Extensão em Gestão pela University of Waterloo/Canadá; Pós-graduações em Psicologia Geral e Analítica das Organizações, em Filosofia Contemporânea e em Sociologia do Trabalho e da Saúde Mental; Formação em Psicologia do Comportamento Social no CAPT-OKA/EUA, com Treinamento nos Institutos Junguianos de New York, Washington, Texas, Florida e Cleveland/EUA; Qualificação e Certificação para aplicação do MBTI – Tipos Psicológicos (Steps 1, 2 e 3) e do PMAI (Estrutura Arquetípica) pelo CAPT/EUA, e do EQ-2.0/EQ – 360 (Inteligência Emocional) pelo MHS/EUA; Consultor e Professor de Pós-Graduação de Filosofia do Comportamento Humano e de Gestão, Liderança e Comportamento Organizacional.