Meditar sobre a dor como algo inerente à condição humana –não é uma atitude intelectual restrita a uma só época, tampouco uma analítica exclusiva de uma cosmovisão filosófica. Ao contrário, ao longo da história da filosofia, a maioria dos filósofos colocou-se a pensá-la, e sob as mais diversas perspectivas, legando-nos explicações sobre as razões necessárias de sua aplicação em nossa existência, bem como sãs atitudes diante dela que nunca se tornaram obsoletas. Nietzsche, por exemplo, escreveu, em seu célebre Assim Falou Zaratustra: “Tenho que ir ao fundo da dor mais que nunca, até as suas mais negras profundidades, pois assim quer o meu destino.”

Hoje, porém, parece haver uma postura infantil em nossa alma que nos torna imaturos e indiferentes à recepção deste farmacon filosófico de milênios: nossa veemente recusa em aceitar a dor, como se nossos sofrimentos fossem em si tiranos opressores de nossa existência, isto é, inimigos externos que invadem insidiosamente a nossa vida para violar o nosso tão intocável e garantido direito à felicidade.

Tal impostura, aliás, reflete com muita exatidão aquilo que o filósofo acima, ao referir-se à nossa época, chamou de “perda de grandeza da alma humana”, um falseamento existencial que faz com que nos sintamos permanentemente ressentidos – levando-nos  A suprimir o nosso senso de autorresponsabilização pelas dores sofridas, e a crer que somos vítimas de um universo, de um sistema, de um governo, de uma sociedade, de um grupo ou de qualquer ente externo que conspira sempre contra nós.

O fato é que nossa cultura perdeu de vista que nossa existência acontece, não apesar da dor, mas através dela, e que há um misterioso vínculo entre as tribulações e o válido na vida humana, pois quando o sofrimento é considerado um inimigo, e não um chamado ao aperfeiçoamento moral, tudo quanto é desagradável, frustrante e adverso em nossa existência perde o seu caráter instrutivo e probatório, aproximando-nos inconscientemente do sentimento de vazio existencial.

Resumidamente, é esta uma das razões pelas quais a falta de sentido, a desesperança e a depressão transformaram-se numa verdadeira “neurose de massa” em nosso tempo, aparecendo, muitas vezes, como causa insuspeita de muitos distúrbios psíquicos com os quais os psicólogos lidam regularmente. sem dúvida, é também um fator decisivo na conduta da maioria dos médicos ao desconsiderar a doença física como estado indicativo de que o indivíduo deixou de estar em harmonia ao nível da sua consciência.

Apresentar uma visão filosófica sobre o sofrimento humano, com o propósito de compreender a dor como um princípio fundamental de equilíbrio psíquico e de desenvolvimento espiritual.

Neste curso apresentaremos como os filósofos contemporâneos e as antigas tradições espirituais conceberam este fenômeno inerente à existência, analisando as suas múltiplas simbologias e significações transcendentes, e mapeando os condicionamentos e desafios inexoráveis que fazem da vida humana uma experiência dolorosa de profundo caráter pedagógico.

MÓDULO 1

POR QUE EU?: Compreendendo a era do ressentimento e a perda da significação objetiva do sofrimento humano

1. a recusa da dor como fator da ansiedade e da angústia generalizadas

2. as psicopatologias contemporâneas da não aceitação da realidade:

2.1 O “niilismo”: a valorização do nada e da ausência de sentido

2.2 A “iconoclastia do espírito”: o esvaziamento do imaginário simbólico

2.3 O psicologismo: a redução da verdade ao fato psíquico

2.4 A “Catolite”: a negação do universal e do transcendente

2.5 A “allostriosis”: a revolta contra Deus e a metafísica

2.6 A “hemiplegia moral”: a condenação valorativa da metade da realidade

 

MÓDULO 2 – O ESCAFANDRO E A BORBOLETA: compreendendo o sofrimento como um fenômeno inerente à condição humana

1. O sofrimento humano à luz dos conceitos fenomenológicos de consciência e existência

2. As 3 estruturas trágicas da condição humana:

2.1 A cisão entre Eu e mundo

2.2 O Esquecimento do Si Mesmo

2.3 A natureza tensional da consciência humana

3. A mente: nosso “cárcere privado”

3.1 As constituições ternária e septenária do homem

3.2 A Esfinge e o quatérnio primário segundo Jung

3.3 Complexos, máscaras e personalidades autônomas

4. A sombra e o jogo de opostos da vida humana

4.1 Ortega y Gasset: Eu sou Eu e minhas circunstâncias

4.2 O Mito do Éden e o “comer o pão com o suor de teu rosto”

4.3 As mensagens filosóficas de Batman, Rei Leão e Harry Potter

4.4 Alquimia: da nigredo à conquista da Pedra Filosofal

5. O Eu entre as culpas moral e estrutural

6. O sofrimento nas 12 camadas da personalidade

6.1 A neurose como mecanismo de defesa contra o trágico da existência

6.1.1 Segundo a psicanálise de Sigmund Freud

6.1.2 Segundo a psicologia analítica de C. G. Jung

6.1.3 Segundo a psicologia individual de Alfred Adler

6.1.4 Segundo a psicologia profunda de Igor Caruso

6.1.5 Segundo a psicologia do caráter de Rudolf Allers

6.1.6 Segundo a psicologia social de Roy Baumeister

6.1.7 Segundo a psicologia do sentido de Victor Frankl

 

MÓDULO 3 – A DOR É OBRIGATÓRIA, MAS O SOFRIMENTO É OPCIONAL: respostas atemporais ao problema do sofrimento do homem contemporâneo

1. A VIDA COMO UM TEATRO: Compreendendo os sentidos probatório e pedagógico da existência humana

2. O sofrimento como enigma para a razão e desafio para a fé

2.1 A transvaloração da dor no Budismo e no Estoicismo

2.2 O sofrimento humano segundo Nietzsche: se cair no abismo, dance

2.3 O sofrimento humano segundo Camus: Sísifo e o alegrar-se no absurdo

3. O sofrimento sob a ótica do símbolo e o mito trágico como realidade existencial

3.1 A tragédia de Édipo: a dor de não controlar o próprio destino

3.2 Quíron e a incurável ferida: a dor de viver na dor

3.3 A doença do Rei Anfortas: a dor de autorresponsabilizar-se pela própria dor

3.4 Teseu no Labirinto: a dor de caminhar às escuras

3.5 A jornada arquetípica do Louco: a dor de integrar o mundo

3.6 A odisseia de Ulisses: a dor de retornar para casa

3.7 As negações de Pedro: a dor de nunca estar à altura do ideal

3.8 Arjuna no Bhagavad Gita: a dor de lutar contra si mesmo

3.9 Eros e Psiquê: a dor de aprender a amar

3.10 O cordeiro de Abraão: a dor do sacrifício do que mais se ama

3.11 A provação de Jó: a dor de confiar sem garantia

3.12 Moisés no Mar Vermelho: a dor de dar o primeiro passo

3.13 A Paixão de Cristo: a dor da redenção pelo amor

Público-alvo: todos aqueles que querem compreender a vida humana com profundidade, ou lidam com a incompreensão da dor, e com quadros de ansiedade e angústia existencial; imprescindível aos psicólogos e médicos que desejam fundamentar filosoficamente suas práticas clínicas, e ir além de sua formação especializada por meio do conhecimento metafísico da dramática condição humana.

DIFERENCIAIS

  • Abordagem voltada exclusivamente à compreensão filosófica do sofrimento humano
  • Foco na aceitação de si e na autorresponsabilização pelas próprias dores
  • Transversalidade dos pontos de vista das principais correntes da psicologia
  • Ênfase na crise de valores e na problemática atual da ansiedade, da angústia e da depressão

Início: 18 de setembro de 2024

Término: 04 de dezembro de 2024

Semanalmente às quartas-feiras(19h30 às 22h)

Ronald Carvalho,  professor de filosofia com especializações, mestrado e doutorado dedicados a estudar a filosofia da consciência e o simbolismo das antigas tradições espirituais. Sua abordagem parte da filosofia clássica, dialoga frequentemente com o existencialismo e com as principais correntes da filosofia oriental, e procura articular a psicologia atual com uma visão antropológica mais ampla e de dimensões transcendentes, como a fornecida pelo psicólogo analítico Carl Gustav Jung.

Mais informações
  • Investimento
  • R$417,00 (1 parcela )

  • R$139,00 (3 parcelas )

  • Carga horária

    30 horas

  • Nº de Disciplinas

    3

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